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Foto: Divulgação |
O futebol sempre foi muito mais do que um jogo e ONDA NOVA, clássico de 1983 que retorna restaurado às telas em 27 de março numa codistribuição entre Vitrine Filmes e Tanto Filmes, é um retrato de um momento importante em que esse esporte se tornou espaço de debate sobre direitos e liberdade no Brasil. Filmado no auge da Democracia Corinthiana, o longa conta com participações de Wladimir Rodrigues dos Santos, Walter Casagrande e Olívio Pitta, ícones do movimento que revolucionou o futebol brasileiro dentro e fora dos gramados. O locutor Osmar Santos, conhecido como a “Voz das Diretas Já”, também marca presença.
Dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia, ONDA NOVA acompanha as jogadoras do fictício “Gayvotas Futebol Clube”, um time de futebol feminino criado no ano em que a modalidade foi finalmente regulamentada no Brasil, após décadas de proibição. Entre treinos e desafios, as atletas enfrentam o preconceito de gênero e sexualidade dentro e fora de campo, enquanto se preparam para competir contra a seleção italiana.
No elenco, Casagrande, Wladimir e Pitta aparecem como apoiadores do time das protagonistas. Ícones da Democracia Corinthiana, eles representavam um Corinthians que decidiu se autogerir, dando a cada jogador e funcionário voz igual nas decisões do clube. Enquanto nos bastidores do Parque São Jorge se debatia sobre liberdade dentro do futebol, ONDA NOVA levava esse espírito para as telas, ao narrar a luta de um time feminino para existir e se afirmar num esporte historicamente dominado por homens.
Considerado “amoral”, esse filme foi alvo da Ditadura Militar e foi interditado integralmente após sua primeira exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1983, adiando seu lançamento em salas na época. Agora restaurado em 4K, ele retorna aos cinemas numa co-distribuição da Vitrine Filmes e Tanto Filmes, após ter sido exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2024.
Para o diretor Francisco Martins, a proibição de ONDA NOVA pela ditadura foi consequência direta da liberdade que o filme expressava: “É um filme onde o desejo assume o protagonismo. Mesmo não tratando diretamente de política, ele se tornou um alvo da censura porque celebrava o desejo como potência de vida e identidade – algo que, por si só, já era um ato de resistência”.
O relançamento do filme só foi possível graças a um cuidadoso processo de restauração conduzido por Julia Duarte, Aclara Produções Artísticas e pela família de José Antonio Garcia, com apoio da Cinemateca Brasileira, Zumbi Post e JLS Facilidades Sonoras. Além da nova cópia em 4K, o cartaz e o trailer foram recriados, com o pôster assinado por Helena Garcia, filha do cineasta falecido em 2005.