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De acordo com a da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), em 2023, dos 2,5 milhões nascidos no Brasil, 172,2 mil têm pais ausentes — quantidade 5% maior do que o registrado em 2022, de 162,8 mil. Esta problemática é ponto chave no novo longa de Pedro Diogenes (Pajeú, Inferninho, codirigido por Guto Parente), A Filha do Palhaço, que chega aos cinemas em 30 de maio.
Ganhador do principal prêmio na Mostra de Cinema de Gostoso, o filme tem como protagonista Renato, interpretado por Demick Lopes, um homem que trabalha como humorista, fazendo shows em estabelecimentos na noite de Fortaleza. Apesar da alegria das apresentações como Silvanelly, ele não é um homem feliz.
Sua filha, Joana (Lis Sutter), de 14 anos, vai passar uma semana com ele. Os dois se conhecem muito pouco, e os laços precisam ser estreitados. Mas como, em uma semana, compensar anos de ausência?
Entre os temas do filme está, exatamente, a ausência paterna ou, o que podemos dizer, uma paternidade tardia. O roteiro, escrito por Diogenes, Amanda Pontes, Michelline Helena, concentra-se no estabelecimento dos laços entre Renato e Joana, que apesar de pai e filha, são como dois estranhos.
Para comentar seu personagem, Lopes cita um ditado africano: “Para educar uma criança precisa de toda uma aldeia”. Mas, como isso pode acontecer numa era de individualismo exacerbado? “Hoje, nas relações como elas estão estabelecidas, é cada vez mais difícil que isso aconteça. Falta braço, falta presença dessa aldeia. E aí quando você vem pro núcleo familiar, falta braço paterno aliado ao braço materno.”
Ele aponta que educar uma criança é uma responsabilidade enorme, e isso parte de exemplos que são dados a essa criança. “Que hábitos ela vai imitar? Outra preocupação importante pra quem tem filho é se eu que decido o que esse ser come, o que é que é saudável? Que eu ponho na boca dela pra que ela se nutra e se alimente? Todas essas questões exigem presença, observação, atenção, olhar, troca com a mãe. Além do ciclo educador, pai, mãe, parentes, vizinhos, professores na escola.”
Para construir o personagem, Lopes conta que conversou muito com o diretor, e, coincidentemente, ambos tiveram filhos na mesma época, e passaram pelos mesmos desafios e angústias da paternidade.
“A gente conversou muito. Geralmente, o artista tem essa visão muito aguerrida do atuar social, de mudar a sociedade, de mobilizar, de combater os erros, as questões políticas, sociais, todas as atravessadas. Mas, o que é de fato colaborar, quando você vai para o núcleo familiar, que depende literalmente de você, que depende totalmente da sua colaboração, o que é que você pode fazer para mudar essa realidade?”, questiona o ator.
E A FILHA DO PALHAÇO fala exatamente dessa possibilidade de mudanças, de reconstrução de laços. “Esse é um filme sobre transformação, sobre busca e aceitação. A narrativa do filme é conduzida pela Joana, adolescente que supera seus medos e preconceitos para resolver questões familiares do passado. Um filme que aponta para a possibilidade de famílias formadas das mais diversas formas possíveis. Não existe fórmula, nem regra”, complementa o diretor.
A FILHA DO PALHAÇO será lançado no Brasil pela Embaúba Filmes.