''A partir das seis e meia da noite eu não ando mais nas ruas'', diz o ator Clayton Nascimento, no Provoca

Divulgação TV Cultura

Nesta terça-feira (21/11), Marcelo Tas conversa, no Provoca, com Clayton Nascimento, ator, dramaturgo e educador, em cartaz com a premiada peça Macacos, e que ainda interpreta o personagem Caíto na novela Fuzuê, da Rede Globo. Na entrevista, o artista fala como foi receber o elogio de Fernanda Montenegro no teatro, conta sobre um assalto racista que sofreu, explica como foi a formação da segurança pública no Brasil e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, às 22h.
 
O ator começa a edição contando como foi receber um elogio da atriz Fernanda Montenegro, que estava na plateia do espetáculo Macacos. “Tem um momento na peça que eu leio uma carta, um momento delicado para a plateia, e eu ouço uma voz vindo perto de mim e dizendo: ‘bravo menino!’. E, em cena, eu pensei: ‘eu conheço essa voz, mas devo seguir’. Quando acaba, Fernanda Montenegro levanta a mão e começa a dizer coisas maravilhosas: ‘você é um fenômeno, eu tenho 90 anos de teatro e nunca tinha visto isso. Você vai fazer isso para sempre, ainda bem que você é brasileiro’”.
 
Clayton diz que antes de ser um artista, que as pessoas querem muito assistir no teatro e estão esgotando as bilheterias, elas o viam como um tipo perigoso. “Um dia eu saio do cinema e vou para a Paulista, a avenida mais famosa da América Latina, eu paro num ponto de ônibus e surge um casal dizendo: ‘ele roubou nosso mercadinho’. E eu disse: ‘não, eu não roubei, você está me confundindo’. E surgiu uma mulher depois dizendo: ‘e me bateu depois’. Eu olhava para o ponto de ônibus e dizia que não era verdade: ‘vocês estão vendo que não é verdade, me ajuda’. Aí eu entendi, é a minha palavra contra de duas pessoas brancas. E ali eu fui punido, espancado e roubado no final”, conta.
 
Ele explica que se tratou de um assalto racista, que o colocaram como um agressor social, pois assim a sociedade não o acolheria. “A maioria dos corpos pretos quando são atacados dizem quase as mesmas frases: ‘você está me confundindo, olha meu documento, estou trabalhando’. E eu percebi que repeti séculos para tentar me safar de um modo saudável. Aí eu vou estudar bastante e eu leio Carolina Maria de Jesus dizendo: ‘Deus abençoe os brancos para que os pretos possam dormir em paz’ (...) e foi o que eu percebi, eu perdi o respeito, o cuidado com o meu próprio corpo quando um casal branco disse que eu era um ladrão e a sociedade acatou. Isso mexe com a gente, a partir das seis e meia da noite eu não ando mais nas ruas”, conta o ator. 

Anderson Ramos

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