Emoção toma conta da segunda edição do Festival Negritudes Globo

Divulgação Globo/Humberto Souza

Nesta terça-feira, 3 de outubro, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, foi palco de momentos de emoção, reflexão e representatividade. Cerca de 2 mil pessoas passaram pelo local para acompanhar os painéis e conversas do Festival Negritudes Globo. Em sua segunda edição, o evento promoveu debates sobre as narrativas negras no audiovisual brasileiro. Em diversos momentos, o público ovacionou os convidados, celebrando momentos únicos de representatividade negra na indústria cultural e de mídia.
 
Com a voz embargada, a jornalista Maju Coutinho abriu a primeira roda de conversa, “Conexão África-Brasil e o Conteúdo que vem da Ancestralidade”, que contou com a participação da escritora Conceição Evaristo, do cineasta angolano Licínio Januário e da atriz Taís Araújo. “É muito impactante estar aqui”, definiu Maju após o painel. “O evento é um marco dessa atenção que finalmente nos deram para contar as nossas histórias, do nosso jeito, com as nossas vozes e com os nossos pontos de vista”, declarou a jornalista. A sensação de conquista foi compartilhada por Conceição Evaristo, uma das mais influentes e premiadas escritoras afro-brasileiras. Reconhecida na cena literária tardiamente, após seus 71 anos, a romancista lembrou que “se contava nos dedos” a produção cultural negra em sua juventude. “Ver aqui essa troca de linguagens, do que jovens negros estão produzindo, para mim é como um presente de vida. Me deixa muito orgulhosa saber que a nossa luta está dando resultado. Esse público está aí para abrir caminho. Como foi dito, não tem mais volta. Agora é adiante”, afirmou Conceição.
 
Segundo Tais Araújo, o reconhecimento de sua própria história e sua ancestralidade a partir da negritude transformou sua carreira. Para a atriz, não é preciso “reinventar a roda”, apenas mudar o ponto de vista das narrativas. “Hoje, quando andamos pelos Estúdios Globo tem muitas pessoas negras por lá. Trabalhando, construindo histórias, novas narrativas. Eu sou muito otimista quanto a isso. Acho que estamos em pleno processo de mudança”, reforçou a artista, extremamente requisitada pelo público nos bastidores do festival.
 
Parceiro de vida e de trabalho de Tais, o ator e diretor Lázaro Ramos participou do debate “Onde nascem as histórias? O processo criativo”. Ele reconhece o avanço a “passos largos” da diversidade no audiovisual, porém lembra que a população negra ainda não está no espaço aonde pode chegar. “Temos uma cadeia produtiva cada vez mais fortalecida para criar coisas novas. É muito bacana ver no evento a diferença de gerações com seus conteúdos e vivências que influenciam naquilo que vamos produzir. Sem falar na troca de informações e de estratégias para se conquistar o público. Tudo isso é alimento e libertação para a gente saber para onde a criação ainda precisa trilhar”, apontou o artista.
 
A potência da representatividade marcou um dos momentos de maior emoção do evento, quando Lázaro Ramos foi homenageado com uma canção especial, entoada pela atriz Prudence Kalambay, da República Democrática do Congo, presente na plateia. Ela contou ter o ator e Tais Araújo como grande inspiração, sentimento que nasceu ao acompanhar novelas com participação do casal em exibição em Angola, país em que se refugiou. A identificação a ajudou a aprender português e o sonho de conhecê-los a trouxe, com a família, para o Brasil. Sonho realizado com um longo abraço entre os dois na plateia do Festival Negritudes Globo, sob aplausos dos presentes.
 
Além das mesas de debate, o evento contou com oficinas especiais de mentoria de roteiros, focadas em jovens autores. Uma experiência muito positiva, de acordo com o escritor Paulo Lins, que esteve entre os mentores disponíveis para ouvir e contribuir com as ideias apresentadas. “As mentorias de que participei foram de ideias e assuntos maravilhosos. Uma delas me chamou atenção porque não era propriamente sobre o trabalho, mas sobre carreira. E eu pude orientá-lo a ser diretor, porque assim ele poderia ser autor e também poeta”, explicou Paulo Lins.
 
Se reconhecer para ocupar espaços
 
Discutindo o audiovisual como aliado na garantia de direitos, Adriana Cruz, juíza federal da 5ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, lembrou a necessidade de se promover a inclusão efetiva fora das telas, superando o racismo estrutural. “Precisamos levar outras perspectivas para os espaços de poder que não permitem que todas as pessoas cheguem nele. Aqui, nós não somos experiências reproduzíveis em grande escala, tudo foi organizado para que nós não existíssemos. Não podemos perder esse olhar”, alertou Adriana, que recentemente fez história ao se tornar a primeira mulher negra a assumir a secretaria-geral do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
 
As narrativas negras têm ressoado em outro espaço importante, o da educação. A cantora e apresentadora Larissa Luz, que mediou a mesa "Escola da vida e o poder das trajetórias negras", promovido pelo Movimento LED, lembrou o potencial da conexão entre a educação e o audiovisual. "Falar sobre o que a gente é essencialmente é muito urgente. Passar uma história que não nos foi contada sobre nós mesmos.... e a educação e o audiovisual, nesse sentido, podem e devem se conectar", comentou.
 
A participação do ator inglês Alfred Enoch encerrou as conversas do Festival Negritudes Globo. Em entrevista conduzida por Samantha Almeida, diretora de Diversidade e Inovação em Conteúdo da Globo, o artista contou como suas raízes brasileiras – ele é filho de uma brasileira de origem afro-barbadiana – foram decisivas na construção de sua negritude, presente em papeis na série “How to get away with murder” e no filme ‘Medida Provisória’. “Só se vai a algum lugar quem sabe de onde veio”, mencionou Samantha, ao questionar Alfred sobre a presença negra em filmes ao redor do mundo. Para ele, a falta de representatividade na tela quase minou o início da sua carreira, quando ainda fazia testes para participar da saga “Harry Potter”. “Fico muito feliz que consegui superar e que a minha presença na tela pode ter impactado alguém. Somos um coletivo de pessoas que pode viver uma vida plena e fortalecer toda uma comunidade panafricana”, exaltou Alfred.
 
A programação completa do evento contou com mais de 10 meses de conteúdos, distribuídas em três palcos simultâneos pelos quais passaram cerca de 40 convidados. Nomes como Rita Batista, Samuel Assis, Yuri Marçal, Ailton Graça, Silvio Guindane, Ivanir dos Santos e Kenya Sade, entre muitos outros. Parte das mesas de discussão estarão disponíveis para consumo sob demanda no Globoplay.
 
O Festival Negritudes Globo é uma evolução do Negritudes 2022, que reuniu influenciadores, parceiros de negócios e do mercado. Em 2023, com patrocínio da Nivea e apoio da Lóreal, a empresa amplificou a discussão sobre a representatividade e inclusão negra, temas que fazem parte dos compromissos públicos da Agenda ESG da Globo. 

Anderson Ramos

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