Léa Garcia quando integrou o 'Teatro Experimental do Negro'. Divulgação: Curta! |
O teatro brasileiro sempre teve um predomínio de atores brancos, com raras exceções na primeira metade do século passado. Entre essas figuras, destacam-se os irmãos Vasques (século XIX) e Benjamin e Vitória de Oliveira, que vieram do circo-teatro. Já Grande Otelo foi revelado pela Companhia Negra de Revistas, a primeira a colocar um negro em cena. Esses artistas, no entanto, eram de linhagem cômica e somente na década de 1940, a partir da criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), atores negros passaram a representar papéis dramáticos. Parte dessa história será contada no quarto episódio da série inédita ''Companhias do Teatro Brasileiro'', exibida com exclusividade no Curta!. A direção é de Roberto Bomtempo e a produção é da Camisa Listrada.
Ruth de Souza, Léa Garcia e Haroldo Costa são alguns artistas que relembram em entrevistas inéditas como o TEN surgiu, seus objetivos e sua trajetória. Fotos e entrevistas históricas ilustram o episódio, que conta ainda com o pesquisador Daniel Marano e Elisa Larkin Nascimento, escritora e diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros.
Abdias Nascimento — ator, poeta, jornalista, economista e militante da causa negra — foi o criador da companhia ao lado de Aguinaldo Camargo, Theodorico dos Santos e José Hernel. O TEN foi uma resposta a uma prática comum na época conhecida como "black face", na qual atores brancos tinham o rosto pintado de preto para interpretar personagens negros. Abdias ficou indignado ao assistir a uma produção teatral que utilizava essa prática e decidiu fundar um teatro negro que servisse para combater o racismo. O "Experimental" viria para romper conceitos, permitir a experimentação artística e o questionamento das normas estabelecidas. Além, claro, de mostrar que os negros também podiam ser atores e participar ativamente das produções teatrais.
Em um primeiro momento, o elenco do TEN seria composto por pessoas humildes, entre empregadas domésticas e funcionários públicos de baixo nível. Por isso, segundo Elisa Larkin Nascimento, escritora e diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, a primeira medida tomada foi a de ofertar aulas de alfabetização porque “sobretudo naquela época, mais do que hoje, não se fazia teatro sem texto. O texto era a estrutura do teatro, então tinha que saber ler”, ressalta ela.
O TEN estreou em 8 de maio de 1945 com a peça "O Imperador Jones", de Eugene O'Neill, não por acaso, a mesma que Abdias tinha assistido anos antes, marcando a primeira vez que atores negros pisaram no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Entre os talentos estava Aguinaldo Camargo, que era delegado de polícia, e se mostrou uma das grandes revelações dramáticas da década.
O pesquisador Daniel Marano explica que Abdias do Nascimento, desde o começo, quis que o Teatro Experimental do Negro fosse mais do que apenas um grupo teatral, que desenvolvesse atividades paralelas ao palco. Assim vieram os cursos de alfabetização, congressos, debates sobre a questão do negro, concurso de artes plásticas, de beleza e a publicação de um jornal, “Quilombo”.
A companhia enfrentou inicialmente resistência ao ser batizada com esse nome, pois muitos acreditavam que associar o termo "negro" ao teatro seria um caminho certo para o fracasso. No entanto, o episódio narra que Abdias tinha uma visão clara: o TEN não era uma proposta exclusiva para negros, mas sim um espaço onde o negro teria protagonismo e liderança, onde suas perspectivas e concepções artísticas seriam valorizadas. A ideia nunca foi excluir brancos, mas sim proporcionar visibilidade aos artistas negros.
Léa Garcia, uma das atrizes que passou pelo TEN, e foi casada com Abdias, ressalta que ele valorizava profundamente a profissão teatral e exigia dos atores um comportamento exemplar. “Ele enfatizava a importância de respeitar horários, ser pontual e dominar o texto, demonstrando ser um líder exigente em busca da excelência artística. A visão e os ensinamentos de Abdias Nascimento foram fundamentais para a formação e crescimento dos artistas”, relembra.
Ao longo da década de 1960, o TEN se afastou dos palcos devido a questões financeiras e passou a focar mais nas atividades sociais e políticas lideradas por Abdias Nascimento, que seguiu carreira política, uma forma de ampliar conquistas. Em uma rara entrevista, Abdias explica a importância da companhia. “O Teatro Negro é uma afirmação da cultura negra, da capacidade do negro de se organizar, a capacidade de luta do negro e de cultura africana no Brasil, independentemente de qualquer influência branca”.
"Teatro Experimental do Negro” pode ser assistido também no Curta!On – Clube de Documentários, disponível na Claro TV+ e em CurtaOn.com.br. Novos assinantes inscritos pelo site têm sete dias de degustação gratuita de todo o conteúdo. A estreia do episódio é na Terça das Artes, 15 de agosto, às 23h30.
Produção inédita e exclusiva apresenta Maria Montessori e seu método educacional revolucionário
Nascida em 1870 na região de Marche, Itália, Maria Montessori foi uma pioneira da medicina do país, apaixonada pela psiquiatria infantil e pela educação. Observando pacientes em Roma, ela criou um método educacional inclusivo para crianças com problemas psiquiátricos. O documentário "Maria Montessori, a Educadora Visionária", a ser exibido no Curta!, aborda a vida e a obra dessa profissional inovadora, que lutou contra o analfabetismo e propôs uma abordagem pedagógica baseada na liberdade e na criatividade. A direção é de Emanuela Audisio e de Malina De Carlo.
O filme apresenta Maria Montessori como uma mulher de grandeza multifacetada — feminista, cientista, estudiosa e pacifista. Ela deixou sua marca como pioneira de um método educacional revolucionário que promovia o desenvolvimento das crianças sem interferência excessiva dos adultos. Foi admirada por presidentes, grandes pensadores, como Freud e Gandhi, e estrelas de Hollywood. Teve seu rosto imortalizado na nota de mil liras, um feito nunca antes alcançado por uma italiana.
Com o sucesso de sua forma de ensino, Montessori viajou por diversos países para expandir o método. Grazia Fresco Honneger — ex-aluna, pedagoga e biógrafa — ressalta que a educadora não viajava apenas por prazer, mas sim por um senso de serviço e de obrigação moral. Ela levava seu conhecimento e sua abordagem educacional a diferentes lugares, fazendo a diferença na vida das crianças.
Montessori não estava comprometida apenas com sua profissão, mas também com questões sociais. Ela defendeu a emancipação da mulher em um discurso no Congresso de Berlim, em 1896, denunciando as disparidades salariais entre gêneros. Sua dedicação à recuperação de jovens com problemas mentais e sua abordagem educacional inovadora lhe renderam reconhecimento e bolsas de estudo, embora não faltassem detratores que a atacassem.
A relação de Montessori com o fascismo foi controversa. Inicialmente, apoiou Mussolini na resolução do problema do analfabetismo em orfanatos. No entanto, suas diferenças com o regime levaram ao fechamento de todas as suas escolas na Itália e na Alemanha, onde o método foi proibido durante o governo de Hitler. Ela morreu em 1952, na Holanda, onde morava.
Para Lynne Lawrence, diretora executiva do Arquivo Pedagógico Maria Montessori (AMI), seu legado perdura: “Ela era uma figura complexa, fascinante e altamente intelectual, movida por uma paixão para transformar o mundo por meio das crianças. Sua missão era criar um mundo melhor, e essa missão continua viva e sendo seguida por muitos”.
"Maria Montessori, a Educadora Visionária” pode ser assistido também no Curta!On – Clube de Documentários, disponível na Claro TV+ e em CurtaOn.com.br. Novos assinantes inscritos pelo site têm sete dias de degustação gratuita de todo o conteúdo. O documentário tem produção da Nexo Digital SRL. A estreia é na Quinta do Pensamento, 17 de agosto, às 22h30.
Segunda da Música (MPB, Jazz, Soul, R&B) – 14/08
22h20 – ''Meu amigo Fela'' (Documentário)
Fela Kuti foi o criador do afrobeat, cruzamento entre os ritmos africanos tradicionais e a música ocidental, e uma figura poderosa do movimento dos direitos negros. Este documentário apresenta uma nova perspectiva sobre o músico nigeriano, em contraponto à narrativa mais frequente de que ele era um excêntrico ídolo pop africano. Dirigido por Joel Zito Araújo, o filme é conduzido pelo amigo íntimo e biógrafo oficial de Fela, Carlos Moore, com um olhar intimista sobre a vida do músico. Entre as pessoas entrevistadas, estão seus filhos, mulheres e os ativistas políticos que foram influenciados por sua mensagem e sua música. Além de retratar a história de Fela, o longa apresenta um contexto político e social da Nigéria e do continente africano durante o século XX, em que o pan-africanismo e a luta pela independência e pela igualdade eram temas recorrentes. A produção faz um paralelo entre a vida e obra de Fela e outras lideranças negras do mundo, como Malcolm X e Martin Luther King, mostrando a importância da luta pelos direitos civis e pela libertação dos povos oprimidos. Ao longo do documentário, é possível ver como a ideologia e a música de Fela cresceram juntas, e como ele se tornou um ícone. Sua militância o colocou em conflito com o governo nigeriano, o que resultou em perseguição política e tortura. No entanto, isso não o impediu de continuar a lutar pelos direitos de seu povo. Duração: 94 min. Classificação: 14 anos. Horários alternativos: 15 de agosto, terça-feira, às 02h20 e às 16h20; 16 de agosto, quarta-feira, às 10h20; 19 de agosto, sábado, às 15h45; 20 de agosto, domingo, às 20h45.
Terça das Artes (Visuais, Cênicas, Arquitetura e Design) – 15/08
23h30 – ''Companhias do Teatro Brasileiro'' (Série) - Episódio: “Teatro Experimental do Negro” - INÉDITO
O Teatro Experimental do Negro (TEN) nasceu com a proposta inovadora, no século XX, de valorizar a cultura afro-brasileira, experimentar estilos teatrais e, principalmente, formar atores negros. Criado por Abdias Nascimento, o TEN foi revolucionário para o teatro brasileiro. Direção: Roberto Bomtempo. Duração: 26 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 16 de agosto, quarta-feira, às 03h30 e às 17h30; 17 de agosto, quinta-feira, às 11h30; 19 de agosto, sábado, às 18h30; 20 de agosto, domingo, às 08h30.
Quarta de Cinema (Filmes e Documentários de Metacinema) – 16/08
23h – ''Viagem Através do Cinema Francês'' (Série) - Episódio: “A Nova Onda sob a Ocupação” - INÉDITO
Durante a ocupação alemã da França (maio de 1940 a dezembro de 1944), alguns diretores deram uma nova vida ao cinema francês: Claude Autant-Lara, René Clément e Henri-Georges Clouzot. As carreiras e as obras desses três nomes são analisadas pelo cineasta Bertrand Tavernier. Direção: Bertrand Tavernier. Duração: 52 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 17 de agosto, quinta-feira, às 03h e às 17h; 18 de agosto, sexta-feira, às 11h; 19 de agosto, sábado, às 13h; 20 de agosto, às 18h.
Quinta do Pensamento (Literatura, Filosofia, Psicologia, Antropologia) – 17/08
19h30 – ''Caminhos dos Orixás'' (Série) - Episódio: ''Ibejis - O direito à vida'' - INÉDITO
Os Ibejis são os espíritos das crianças, destinados a trazer a felicidade e a longevidade. Nesse episódio, contamos como os Ibejis enganaram Iku (a morte) e garantiram que as pessoas tivessem seu tempo acordado aqui no Ayê (o mundo físico, a Terra). Os Ibejis são as crianças que gente velha respeita. São as crianças que pediram bênçãos com a garantia de que, se eles derem sua palavra, ela será cumprida. Direção: Betse de Paula. Duração: 26 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 18 de agosto, sexta-feira, às 05h30 e às 13h30; 19 de agosto, sábado, às 07h30 e às 20h30; 20 de agosto, domingo, às 10h30.
22h30 – ''Maria Montessori, a Educadora Visionária'' (Documentário) - INÉDITO
Maria Montessori foi uma visionária, lutou contra o analfabetismo e imaginou uma pedagogia baseada não na disciplina, mas na criatividade. Este documentário lança luz não apenas sobre a vida dessa mulher extraordinária que se recusou a se conformar e se libertou das restrições impostas pelo seu gênero, mas também sobre a modernidade de seu método de ensino, hoje difundido em todo o mundo. Direção: Malina De Carlo, Emanuela Audisio. Duração: 75 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 18 de agosto, sexta-feira, às 02h30 e às 16h30; 19 de agosto, sábado, às 14h15; 20 de agosto, domingo, às 22h30.
Sexta da Sociedade (História Política, Sociologia e Meio Ambiente) – 18/08
21h30 – ''Tá Rindo de quê?'' (Documentário)
No período da ditadura militar, mesmo com toda a brutalidade, truculência e obscurantismo inerentes aos regimes de exceção, muita gente fez rir. O humor serviu como arma de resistência, mas também como válvula de escape, criou formas de driblar patrulhas e censuras, revolucionou linguagens, criou, debochou, divertiu, foi perseguido, proibido, encarcerado e, ainda bem, riu por último. Direção: Alê Braga, Claudio Manoel e Álvaro Campos. Duração: 85 min. Classificação: 12 anos. Horários alternativos: 19 de agosto, sábado, às 01h30; 20 de agosto, domingo, às 12h30.
Sábado, 19/08
22h05 – ''Niemeyer - A Vida é Um Sopro'' (Documentário)
Um filme que se pauta na poética das formas de Oscar Niemeyer para reconstruir a história do maior ícone da arquitetura moderna brasileira. Uma trajetória indissociavelmente ligada às transformações do país no século XX. No documentário, o arquiteto conta de forma descontraída como concebeu seus principais projetos. Mostra como revolucionou a arquitetura moderna, com a introdução da linha curva e a exploração de novas possibilidades de utilização do concreto armado. Fala também sobre sua vida, seu ideal de uma sociedade mais justa e de questões metafísicas como a insignificância do homem diante do universo. O filme, de Fabiano Maciel, é costurado por imagens de arquivo inéditas e raras, e por depoimentos de personalidades como os escritores José Saramago, Eduardo Galeano e Carlos Heitor Cony, o poeta Ferreira Gullar, o historiador Eric Hobsbawn, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, o ex-presidente de Portugal Mário Soares e o compositor Chico Buarque. Direção: Fabiano Maciel. Duração: 90 min. Classificação: Livre. Horário alternativo: 20 de agosto, domingo, às 14h.
Domingo, 20/08
19h50 – ''Carolina Maria de Jesus'' (Documentário)
O documentário conta a trajetória da escritora Carolina Maria de Jesus, catadora de papéis e de outros lixos recicláveis que ficou famosa por seu livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Traduzido para treze idiomas e distribuído em mais de quarenta países, a publicação inspirou escritores e artistas como Ruth de Souza, Zezé Motta e Conceição Evaristo. Direção: Daniel Augusto. Duração: 52 min. Classificação: Livre.
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