"Ser negro no Brasil é criminalizado", diz escritor Geovani Martins no Provoca

Foto: Giovanna Carvalho

Nesta terça-feira (20/6), o Provoca recebe o escritor Geovani Martins, autor do livro O sol na cabeça (2018) – finalista do Prêmio Jabuti – e do romance Via Ápia (2022). Em conversa com Marcelo Tas, ele dá detalhes de sua escrita e fala sobre sua infância e vivência na zona sul do Rio de Janeiro, entre outros assuntos. O programa inédito será exibido a partir das 22h, na TV Cultura.
 
Ao ser provocado por Tas sobre a realidade das comunidades cariocas com a chegada das UPPs, diz: "Foi muito louco esse período. Porque ser negro no Brasil é criminalizado, eu costumo dizer isso. As pessoas falam ‘ah, a maconha é proibida’. Não, a maconha não é proibida. Ser negro é proibido. Porque as pessoas brancas, de classe média, usam drogas na maior tranquilidade, sem nenhum medo". E acrescenta contando que, por conta da repressão histórica, em 2010 existia "a pior relação possível entre morador de favela e corporação policial". 
 
Sobre a escrita de O sol na cabeça, livro de contos sobre a realidade periférica carioca, Martins diz: “nesse momento eu ainda estava entendendo... Eu já sabia que estava fazendo um contraponto a várias coisas”, em relação às narrativas hegemônicas traçadas. E para explicar, exemplifica a escolha que fez na descrição dos personagens em contraponto ao que ocorre, segundo ele, em grandes clássicos da literatura brasileira. 
 
O escritor afirma que todos os personagens eram descritos por suas características e “quando chegava o negro, ele era o negro. Então assim, a gente já tinha estabelecido que o padrão é o branco, mesmo a gente falando de um país de maioria negra (...) quando entrava um personagem negro, era marcada a racialidade dele”. Por isso, escolheu não dizer se os personagens de sua obra eram brancos ou negros. Mas a crítica e o público em geral assumiram, por conta das realidades descritas, que as histórias foram construídas sobre personagens negros. “E isso já colocava em xeque a ideia de democracia racial”.
 
Ao relembrar sua infância, Martins conta sobre a relação com a escola: “era um lugar me aprisionava muito”, ao mesmo tempo que garantia uma sociabilidade interessante. E comenta do dia em que um professor falou aos alunos que eles estudavam para aprender a ser empregados dos alunos que estavam em escolas particulares. “Isso me deixou com muito medo. Acho que o maior medo da minha vida era isso: viver a minha vida inteira servindo, sendo subvalorizado, sendo explorado”, completa.

Sobre Geovani Martins
 
Geovani trabalhou como ‘homem placa’, atendente de lanchonete e de barraca de praia antes de se tornar escritor. Em 2013 e 2015, participou das oficinas da Festa Literária das Periferias, Flup. Foi convidado para a programação paralela da Flip. Seu primeiro livro, O sol na cabeça (2018), uma coletânea de contos que retrata a realidade da periferia carioca, foi finalista do Prêmio Jabuti e ganhou edições em 10 países. Acaba de lançar Via Ápia (2022), o seu primeiro romance.​

Anderson Ramos

O Universo da TV é o site perfeito para quem quer ficar por dentro das últimas novidades da TV. Aqui, você encontra notícias sobre TV paga, programação de TV, plataformas de streaming e muito mais. É o único site que oferece uma cobertura completa da TV, para que você nunca perca nada. facebook instagram twitter youtube whatsapp telegram

Postar um comentário

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do O Universo da TV.

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato