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Entre linhas, agulhas e histórias, o programa jornalístico Caminhos da Reportagem percorre as tramas coloridas da Região das Lagoas Mundaú e Manguaba, em Alagoas, reconhecida como Indicação Geográfica (IG) do bordado filé, neste domingo (4), às 22h.
A edição inédita da atração da TV Brasil integra a série temática "Riquezas da Nossa Terra", produzida pela emissora pública em parceria com o Sebrae. O conteúdo da emissora pública tece redes para apresentar histórias de vida emocionantes e resgatar a tradição do trabalho e do saber artesanal.
Ensinado pelos europeus no período colonial, o bordado filé foi incorporado pelas mulheres locais e se tornou um símbolo do estado nordestino. Se no velho continente o artesanato é monocromático, sendo mais comum em branco ou bege, no Brasil, essa produção rústica ganhou múltiplas cores.
Na família da artesã Lourdes Gama, a filha Sandra e a neta Kaillane aprenderam com ela a bordar e a fazer da atividade uma fonte de renda. "Eu já sou aposentada, então a minha complementação é o filé. Tem mulheres que criam a família inteira somente com a renda do filé", afirma dona Lourdes.
Filé, traduzido do francês "filet", significa rede. E, no caso do artesanato, é um bordado feito sobre uma rede semelhante à da pesca. Não é por acaso que este tipo de trabalho está presente em comunidades pesqueiras, explica o antropólogo Bruno Cavalcanti.
O professor da Universidade Federal de Alagoas é responsável pelas pesquisas que fundamentaram o reconhecimento do bordado filé como Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas e depois garantiram o registro da região como Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Influência do trabalho artesanal e pesqueiro na renda
O bordado e a pesca são atividades essenciais para a sobrevivência da população do Complexo Estuarino das Lagoas Mundaú-Manguaba, formado por seis municípios: Maceió, Marechal Deodoro, Pilar, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba.
Segundo Bruno Cavalcanti, o peso do bordado no orçamento das famílias vem aumentando em função do incremento do turismo e da queda do rendimento da pesca provocada principalmente pela poluição das lagoas.
"A lagoa está secando. Aqui onde nós estamos passava a lancha que ia para Marechal Deodoro. Hoje em dia a gente tá em cima da areia", confirma o pescador José Rosalvo dos Santos que saiu junto com a mulher, Rosiene da Silva Ramos, para pescar e catar mariscos na lagoa Mundaú, no bairro Pontal da Barra, na capital. Quando voltam da água, ele tece com o nylon uma nova tarrafa. Ela borda e engoma toalhas, colchas, entre outras peças.
Assim como Rosiene, muitas bordadeiras encomendam as redes que servem de suporte para o bordado no município de Coqueiro Seco, de seis mil habitantes. Jedivan do Nascimento Silva, de 72 anos, é umas das poucas que ainda fazem a rede da forma tradicional, mais difícil.
Durante o programa do canal público, a artesã fala sobre o seu árduo processo de trabalho. A entrevistada conta que enrola a linha de algodão no dedão do pé para começar a tecer. Quando a malha atinge 30 centímetros, ela passa a obra para outro tipo de suporte, que pode ser o encosto da cadeira.
Reconhecimento e legado da prática
Para defender a tradição e buscar a valorização do produto, as artesãs criaram o Instituto do Bordado Filé de Alagoas, o Inbordal, e com a assessoria do Sebrae, batalharam pelo reconhecimento da Indicação Geográfica.
Entre as conquistas que vieram em seguida, elas comemoram parcerias, aprendizado em oficinas e lançamento de novas coleções. Maylda Cristina Soares da Silva, presidente do Inbordal, ressalta que a partir da IG as artesãs conseguiram melhores preços na venda do filé.
Uma das estratégias do Inbordal é ensinar o saber ancestral para as novas gerações. As oficinas de bordado reúnem adolescentes de escolas públicas. "Pra mim é muito importante passar esse trabalho para que ele não morra porque foi através dele que a minha mãe ajudou bastante a minha família e deixou esse legado pra gente", diz a professora Lucineide Sena.
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