Em 'Cine Holliúdy', Olegário reclama da TV na vida dos pitombenses e Lindoso decide tacar fogo nelas

Divulgação Globo/João Miguel Júnior

Em 'Cine Holliúdy 2', no episódio previsto para ir ao ar amanhã, dia 30, Olegário (Matheus Nachtergaele) está possesso com a forma como a TV dominou a vida das família de Pitombas. Socorro (Heloisa Périssé), a nova prefeita da cidade, só pensa em ver novela nas horas vagas e, injuriado, o marido vai falar com o padre Raimundo (Cacá Carvalho), alegando que o aparelho está acabando com a família dele, visto que a esposa não lhe dá mais atenção na hora de dormir. Ciente do fato, o padre ressalta que todos os homens fizeram a mesma reclamação. Para piorar, quando Olegário consegue, enfim, um momento com Socorro em casa, dessa vez é ele quem se distrai vendo TV e deixa a esposa na mão.
 
Ambiente de crise formado, ele culpa a televisão pelo ocorrido e faz um movimento com os vereadores para pressionarem a prefeita a acabar com os aparelhos da cidade. Socorro, que não dá confiança pro marido nos assuntos relacionados à prefeitura, pede uma comprovação médica de que a TV faz mal à saúde. Diante da situação, eles vão atrás de um atestado médico e depois levam os aparelhos para serem queimados na praça. Quando Lindoso (Carri Costa) e Olegário se encontram no meio da confusão, Socorro aparece e ameaça o marido. Desesperado, ele sobe na pilha de televisores para resgatar a sua, mas Lindoso acende a fogueira com Olegário em cima delas.
 
Confira abaixo a entrevista com Carri Costa: 
 
Como você recebeu o convite para fazer Cine Holliúdy? 
Tudo aconteceu de uma maneira bem interessante, porque era 2017 e, tanto o Edmilson Filho quanto o Halder (diretor) já tinham me visto nos palcos do estado – eu trabalho com comédia há muito tempo, acredito que a vida toda. Então, ao final do espetáculo, saímos para comemorar e o Edmilson disse que tinha uma coisa boa para acontecer: talvez uma série, um personagem, mas sem fincar nada com muita certeza. Eu fiquei esperançoso. De repente, eu recebi um telefonema, e foi muito engraçado porque, como brincamos muito com essa história de alguém que te liga se identificando como produtor da TV Globo, a princípio você não acredita, puxa mais conversa para saber se aquilo procede, mas a pessoa que fez o contato confirmou, e disse que havia essa proposta de já assumirmos um personagem, que viéssemos ao Rio fazer uma leitura. Foi muito interessante, porque séries e episódios faziam parte de um universo que eu realmente ainda não tinha percorrido – minha vida inteira foi em cima de um palco ou no teatro de rua. Apesar de já ter participado de filmes e produções de audiovisual, eu recebi [o convite] com muita vontade de aprender sobre essa linguagem. Eu fui de cabeça totalmente aberta, esperando que o que acontecesse fosse um aprendizado inesquecível – e assim tem sido.           
 
Conte sobre a personagem. Como você a descreve? 
Adorei construí-lo porque eu já tinha intimidade com ele por ser cearense, por conviver na periferia da cidade de Fortaleza durante a minha juventude e adolescência, e conhecer o que nós chamamos de bodegueiros, os donos dos armazecos. Então eu tinha muita proximidade com o comportamento, com a linguagem, o vocabulário, a expressividade, a espontaneidade de um proprietário de bodega – em Fortaleza e no interior do estado nós chamamos mais de bodega do que de armazeco. Lindoso é um administrador de um negócio, absolutamente apaixonado pela esposa dele, a Belinha (Solange Teixeira), e que ‘se vira nos 30’ para galgar determinado poder dentro daquela sociedade e daquela cidade. Ele quer ascender, apesar de já ter uma condição social considerável. É dono do único estabelecimento de venda de variados, de secos e molhados daquela cidade. Mesmo assim, ele quer mais, sonha e disputa com os seus pares, com as pessoas com quem cresceu junto enquanto jovens, adolescentes, e vai disputando poderes, exercitando todas as suas contradições, suas posições de pessoa boa e de pessoa má. Lindoso é muito contraditório. É indiscutível como ele se contradiz o tempo inteiro. Há o lado bacana, bom, e o lado meio capcioso. Essa diversidade é absurdamente humana e compatível com a proposta dramatúrgica.                   
 
Você já havia trabalhado com algum dos colegas do elenco em outro projeto? E como tem sido o encontro com esse grupo? 
Eu trabalho com a Solange [Teixeira] há mais de dez anos. Dividimos palco de teatro e experiências audiovisuais no Ceará há muito tempo. Com os demais, eu não havia trabalhado. Trabalhar com o Edmilson, com o Haroldo, foi uma coisa maravilhosa – é um aprendizado muito incrível; não me surpreende a agilidade de interpretação ou a composição dos personagens, porque eles têm a ‘cearensidade’ que eu tenho, então a nossa troca em cena é muito fácil. Com os atores do Rio de Janeiro foi aprendizado, porque eu fui entender como funciona o tempo deles nesse processo de audiovisual de séries; tem sido muito bom. Eu considero esse encontro com eles muito mais como um reencontro, porque nós temos muita intimidade cênica, muita entrega à cena, aos personagens, e à generosidade proposta de interpretação. A composição na hora da partilha, da ideia dramatúrgica é absurda. A criatividade e a força de interpretação acontecem simultaneamente entre os dois, três ou cinco que estão dividindo a cena – e isso é reencontro, é mágico! Acho que não poderia ser diferente porque todos vêm dessa carpintaria maravilhosa que é o teatro, então já nos ajuda muito a termos essa entrega.
 
Como foi a sua preparação para viver essa personagem?
As preparações para o meu personagem – meu Deus, isso foi um presente. Tivemos Hugo Possolo na primeira temporada, e Amir Haddad agora na segunda temporada; são duas pessoas sobre quem eu já havia lido muito, admirado, sempre em suas posturas de entendimento cênico, e de repente eles estão in loco nos dando todas as coordenadas, os pontos e convergências para o desenvolvimento do personagem, e principalmente para esse encontro de todos os personagens e talentos. Nós tínhamos uma diversidade de pessoas, cada um com as suas características, personagens, formatos de exploração de personagem, e ele juntou tudo. Passou tudo aquilo o que nós, que éramos marinheiros de primeira viagem, precisávamos entender para ficarmos bem à vontade e bem pré-dispostos para o personagem acontecer e a história ser, consequentemente, contada e encenada de uma maneira crível e cômica. Foi uma preparação impecável, de personas que nos deixaram muito à vontade e que realmente conseguiram a façanha de fazer surgir esses personagens fortalecidos dentro de nós e colocados à baia para contracenar uns com os outros. Foi genial.     
 
Como estão sendo as gravações? Alguma curiosidade? 
A experiência é muito interessante, porque praticamente tivemos dois formatos de construção da obra de arte. A primeira temporada foi na cidade de Areias, um cenário vivo, de uma cidade que já existia, e um trabalho muito semelhante ao de uma produção cinematográfica; agora estamos na cidade cenográfica, dentro dos Estúdios Globo. Eu percebo que é outro formato, tão interessante quanto o outro, e as gravações têm sido como eu imaginei que seriam. Eu sempre encarei isso como um grande trabalho que precisaria de um grande empenho e desempenho da minha parte enquanto artista, profissional da cultura, e talento voltado para a comédia.. Estar dentro desse, entre aspas, ‘sistema’ é uma coisa fabulosa, porque tudo funciona. Esse ano eu fiz 40 anos de teatro, passei pelo teatro de rua, teatro de palco, e isso nos dá calejo e capacidade de entender como é qualquer processo de montagem, criação e execução da obra de arte, mas quando chegamos nessa estrutura, o que é mais curioso é que ela funciona perfeitamente bem diante de toda a sua complexidade.         
 
Acompanhou a repercussão da primeira temporada? 
Claro, acompanhei muito a repercussão da primeira temporada. Foi muito surpreendente porque, quando ela começou, eu estava em Fortaleza, e de repente veio o impacto na audiência, ele passou a ser um retrato da sociedade brasileira em um espaço geográfico no Nordeste do Brasil. Mas todos os arquétipos estavam lá, apontando virtudes e mazelas da alma humana. Isso, indiscutivelmente, é o tempero necessário para um sucesso. E isso existe por conta de uma dramaturgia necessária, de uma direção competente e de uma atuação impecável. Isso foi uma coisa tão mágica, que nós acreditávamos que aconteceria mesmo uma segunda temporada, uma terceira, e quiçá outras, porque é um formato absolutamente real, com todas as cores que são necessárias ter para poder colorir um pouca a história e a vida das pessoas que estão apreciando a obra de arte. Isso é proposto de maneira magnífica por todo o conjunto de talentos que fazem com que a repercussão dessa obra de arte seja irretocável. Acompanhei de perto mesmo, ouvindo as pessoas comentando; fora internet, as pessoas me paravam na rua e comentavam, e eu instigava para que elas me dissessem mais, porque essas respostas são necessárias. É interessante ouvir o que o povo que está em casa jantando ou se preparando para dormir já assiste àquilo ou cria determinada identidade empática. Isso é maravilhoso, porque as pessoas se colocam no lugar daqueles personagens, daqueles arquétipos, daquela existência ficcional, e vão dormir com aquilo. Isso é fantástico.        
 
O que pode adiantar dessa segunda temporada? 
Será intenso, absolutamente envolvente, cômico, dentro de uma linguagem respeitosa e de um realismo que, por mais que se passe em determinada época, é atemporal, porque são realidades de hoje que são retratos de um passado, mas que surfamos dentro de uma molecagem e de um linguajar que é muito cearense, e o que ele vai esperar e ter a partir disso é esse senso de felicidade, brasilidade e universalidade responsável do bom humor. Isso é o que nós precisamos mais hoje, que o humor entre na casa de cada brasileiro de maneira respeitosa, jocosa, colorida, e que deixe na história da cultura daquele país um formato responsável de sorriso. Isso é muito bom. Acho que a segunda temporada será impactante nisso. Será tudo muito bem pensado, e tudo está sendo muito bem criado e encenado para que isso aconteça.   
 
Qual a importância da série nesses tempos tão difíceis que estamos vivendo? 
Eu sou uma pessoa que vive dentro da comédia há 40 anos. Eu optei por entrar nesse jogo do riso desde a minha tenra infância. Comecei com 15 anos, e desde esse momento, que eu comecei a ter a inteligência do humor e a perceber a responsabilidade do bom-humor, eu sabia que ele teria que ter a sua importância e responsabilidade na mudança, no comportamento e na felicidade de quem estivesse apreciando e se propondo ao aplauso. Eu acredito que a série seguirá o mote de ser aquele espaço de felicidade moleca, de jocosidade responsável, que desperta senso e consciência. Há aqueles que acham que a comédia é somente o riso e proposta de entretenimento, mas eu acredito e constato na dramaturgia proposta em ‘Cine Holliúdy’ que ela é um ponto de felicidade e de reflexão sobre o que acontece na atualidade, o que aconteceu no passado e o que pode acontecer no futuro. Não teria como ser diferente. Por isso ela é importante. ‘Cine Holliúdy’ é uma obra muito viva e responsável. As cores da série entram nas almas humanas e eu acho que não será muito difícil as pessoas perceberem a proposta de que tudo pode ser mudado e transformado dentro de uma leveza, de um riso e de uma consciência.             
E como tem sido gravar na cidade cenográfica após a experiência em Areias na primeira temporada? 
Gravar em uma cidade cenográfica tem sido surpreendente. É mágico. São coisas que eu, enquanto ator, e acredito que todos os atores que estão usufruindo dessa magia que é estar dentro de um cenário tão vivo e intenso sentem. Estar nos Estúdios Globo é um aprendizado. A cidade cenográfica é uma grande moldura dessa obra de arte. Temos atores, atrizes, técnicos, talentos voltados para tornar a obra de arte substanciosa, verdadeira, humana, colorida, cômica. Aquela cidade compõe o quadro e nós ficamos muito à vontade, pela própria competência de toda a equipe que faz tudo aquilo funcionar. Não conseguiríamos, enquanto artistas, se não fosse toda a gama de profissionais que estão ali próximos, construindo, montando, iluminando, fazendo trilho e toda a parte que foi construída arquitetonicamente para aquilo funcionar. Nós conseguimos perceber que tudo isso foi entregue a essa obra de arte e isso nos dá um compromisso de tornar aquilo muito competente para que chegue na casa de cada pessoa de forma muito verdadeira.    

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