Hegemonia branca e masculina na ABL é tema de episódio inédito de 'Inconveniências Históricas'

Divulgação Curta!

Em ''Inconveniências na ABL'', episódio inédito da série ''Inconveniências Históricas'', questiona-se a soberania branca e masculina na Academia Brasileira de Letras, instituição fundada em 1897 e que abriga os maiores nomes da literatura do país. O capítulo mostra que a entidade cultiva o europeísmo, ignorando em grande parte a herança colonial escravocrata brasileira, além de uma resistência a aceitar a intelectualidade feminina.

O contrassenso se inicia desde sua criação, tendo como um de seus fundadores Machado de Assis, escritor negro que, segundo registros apresentados no documentário, tinha a cor como motivo de constrangimento e perplexidade para os companheiros acadêmicos. Após sua morte, José Veríssimo publicou um artigo no qual o chamava de “mulato, mas de fato grego”. Joaquim Nabuco censurou a expressão, respondendo: “Eu não o teria chamado mulato. Machado, para mim, era branco. Eu, pelo menos, só via o grego”. Outro exemplo de que a supremacia branca decidia quem poderia ser intelectual ou não foi com Lima Barreto. Romancista negro, foi rejeitado em duas candidaturas e, na terceira, desistiu.

As mulheres também enfrentaram resistência. Escritora, cronista e teatróloga, Júlia Lopes de Almeida chegou a ser cogitada como integrante na primeira ata dos fundadores da ABL. Mas, por seguir um modelo francês de academia literária, a instituição acaba sendo fundada apenas por homens, e seu marido é convidado a representá-la. Em 1930, a escritora Amélia Beviláqua tenta a primeira candidatura feminina, que é negada. Apenas em 1977, as mulheres passaram a ser aceitas, com a entrada de Rachel de Queiroz, escritora “elogiada” por escrever como um homem.

A produção apresenta um comparativo percentual da população brasileira, na qual 56% se declaram pardos ou pretos, enquanto na ABL apenas um único integrante das 40 cadeiras é negro, o imortal Domício Proença Filho (não se considera a presença de Gilberto Gil, pois sua entrada na academia, em abril deste ano, se deu após a finalização deste episódio.) Outra comparação feita foi entre as mulheres, representando 52% da sociedade brasileira, porém, na academia, com pouco mais de 10% de presença.

“A ABL é um símbolo de intelectualidade, produção de conhecimento e mercado editorial onde, com certeza, mais de 90% dos ocupantes das cátedras são integrantes da população branca. Ela passa uma imagem explícita de que o sentido de intelectual, de organização de pensamento e de produção de reflexões críticas é necessariamente branco e masculino, colocando à margem a maioria da população. Acho que é uma proposta analítica para invertemos o foco e pensarmos que o grande problema do Brasil hoje é o racismo, e, principalmente, da supremacia branca em determinar valores e comportamento”, analisa a historiadora Giovana Xavier.

Dirigida por Belisario Franca e Pedro Nóbrega, “Inconveniências Históricas” é uma produção da Giros, viabilizada pelo Curta! por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e, neste episódio, conta com a participação de especialistas como Giovana Xavier, Lilia Schwarcz, Gabriela Trevisan e Sidney Aguilar. A exibição é na Sexta da Sociedade, 6 de maio, às 23h30.

Em ‘O Dom’, episódio da série ‘Jazz’, conhecemos a história do lendário Louis Armstrong

Em “O Dom”, segundo episódio da série “Jazz”, que estreia no Curta!, o premiado diretor Ken Burns apresenta as habilidades de Louis Armstrong. O trompetista, nascido em Nova Orleans, em 1901, imprimiu seu estilo no gênero, trazendo a sua experiência como músico de blues — o que é descrito no filme como “o maior presente musical vindo da América”. O espectador também tem a oportunidade de conhecer grandes nomes que contribuíram para o êxito do jazz, como King Oliver, Duke Ellington, Paul Whiteman e Fletcher Henderson. Em outro momento, o documentário mostra como o jazz conseguiu ser marcante na história dos Estados Unidos.

Da lista de talentos de Armstrong retratada, a potência para tocar o instrumento é o que mais chama atenção. Entrevistado, o escritor Stanley Crouch explica que “ainda que outros músicos consigam o mesmo alcance que ele, sua energia e sua força eram únicas e, até hoje, ainda não foram superadas”.

Quando jovem, Armstrong, apesar de pobre, conseguiu comprar um trompete. Depois de soprar por um tempo, conseguiu tocar “Home Sweet Home”. Fã da banda liderada pelo trompetista King Oliver, Armstrong costumava carregar seu instrumento musical, o que considerava uma honra. Quando King vai para Chicago, Armstrong assume seu posto na banda, e o sucesso começa a aparecer.

A criação da Lei Seca nos EUA, em 1930, fez com que os poucos salões existentes se multiplicassem, surgindo os speakeasies. Na tentativa de atrair o público, a música foi a aposta, e o jazz passou a ter muita demanda. Sempre lotados, os bares clandestinos também se tornaram um marco para os costumes da época, trazendo mais liberdade para a sociedade americana. Mulheres que não bebiam em salões convencionais, por exemplo, passaram a beber nos speakeasies.

Aos 21 anos, Armstrong decide sair de Nova Orleans e parte para Chicago a convite de seu ídolo King. Lá, gravou seu primeiro disco “Chimes Blues”. Sua força era tanta que, durante a produção, foi necessário afastá-lo cerca de 3 a 4 metros da banda, pois cobria o som dos demais. Conseguiu ainda uma faixa solo.

Depois de grandes conquistas em Chicago, ele vai para Nova York integrar a banda de Fletcher Henderson, considerado o “rei negro”, pois trabalhava com os maiores músicos negros do país. Armstrong chega na cidade transformando orquestras e músicos.

A produção confirma que Armstrong não é considerado uma figura influente do jazz à toa. Ele o fundiu com o blues, instituiu o solo, ampliou o alcance do trompete, tinha swing e possuía um vocabulário melódico e rítmico que as grandes bandas passaram a usar.

Além da exibição no Curta!, “Jazz” está também no streaming Curta!On – Clube de Documentários, plataforma disponível no NOW — da NET / Claro. A estreia é no sábado, 7 de maio, às 21h, com reexibição na Segunda da Música, 9 de maio, às 23h.

Segunda da Música (MPB, Jazz, Soul, R&B) – 02/05

21h – “Cássia Eller” (Documentário)

Cássia Eller é uma figura icônica da música brasileira. Sua breve passagem pelo cenário musical nos anos 90 deixou uma marca inegável na cultura brasileira. Sua morte, em 2001, teve repercussão nacional. Com seu talento e carisma, expôs tabus e demonstrou sua força como pessoa pública. Direção: Paulo Henrique Fontenelle. Duração: 113min. Classificação: 12 anos. Horários alternativos: 3 de maio, terça-feira, às 1h e às 15h; 4 de maio, quarta-feira, às 9h; 7 de maio, sábado, às 15h; 8 de maio, domingo, às 22h.

23h – “Jazz” (Série) – Episódio: “Gumbo” (Documentário)

O jazz começa na década de 1890, em Nova Orleans, onde os sons de bandas marciais, ópera italiana, ritmos caribenhos e shows de menestréis enchem as ruas com uma cultura musical ricamente diversificada. Aqui, músicos afro-americanos criam um novo gênero a partir desses ingredientes, misturando síncopes de ragtime com o sentimento comovente do blues. Logo após o início do novo século, as pessoas estão chamando-o de jazz. Os primeiros músicos do estilo viajam pelo país nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, mas poucas pessoas têm a chance de ouvir essa nova música. Não até 1917, quando um grupo de músicos brancos de Nova Orleans que se autodenominam "Original Dixieland Jazz Band" gravam um sucesso inesperado, catapultando-os para o estrelato. Os americanos estão subitamente loucos pelo jazz, e a Era do Jazz está prestes a começar. Direção: Ken Burns. Duração: 59 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 3 de maio, terça-feira, às 3h e às 17h; 4 de maio, quarta-feira, às 11h.

Terça das Artes (Visuais, Cênicas, Arquitetura e Design) – 03/05

22h – “Matizes do Brasil” (Série) - Episódio: “Anna Maria Maiolino”

Artista renomada mundo afora, Anna Maria Maiolino revela, neste episódio, que sempre soube que seu destino estaria inevitavelmente ligado à arte. Nascida na Itália, criada na Venezuela e naturalizada brasileira, ela carrega a marca da desterritorialidade, traço evidenciado no sotaque que mistura italiano, espanhol e português. Em mais de 50 anos de produção, Maiolino já transitou por xilogravura, vídeo, fotografia, performance, instalação, pintura, escultura e poesia – sempre com um viés fortemente filosófico. Márcio Doctors, Paulo Miyada e Tania Rivera, todos grandes estudiosos de sua obra, comentam neste episódio sobre a maneira única como ela explora as noções de subjetividade, pertencimento, deslocamento e lugar. Direção: Bianca Lenti. Duração: 26 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 4 de maio, quarta-feira, às 2h e às 16h; 5 de maio, quinta-feira, às 10h; 8 de maio, domingo, às 14h10.

 Quarta de Cinema (Filmes e Documentários de Metacinema) – 04/05

20h – “Lost + Found” (Série) – Episódio: “Fernanda Coelho”

 Maria Fernanda Curado Coelho estudou museologia na FAAP, instituição à qual retornará este ano como professora de preservação audiovisual. Desenvolveu toda a sua carreira junto à Cinemateca Brasileira, onde ingressou em 1977 ainda como estagiária. Com afinidade pela organização do acervo, assume progressivamente a catalogação e, posteriormente, a chefia do setor de preservação. Cada vez mais preocupada e empenhada em desvendar os mistérios da conservação de películas em um país tropical, sistematiza conhecimentos sobre o tema e desenvolve estágios junto à Cineteca di Bologna e à Filmoteca Española, onde conhece seu grande mestre, o restaurador Alfonso Del Amo. Escreve pioneira brochura sobre manuseio e conservação de películas e orienta a construção da reserva técnica de películas da Cinemateca Brasileira, marco da conservação de filmes no Brasil. Foi condecorada com o Prêmio de Personalidade do Ano do mundo da preservação brasileira na Mostra de Cinema de Ouro Preto de 2015. Diretor: Diogo Cavour e Thiago Ortman. Duração: 28 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 5 de maio, quinta-feira, às 00h e às 14h; 6 de maio, sexta-feira, às 8h; 7 de maio, sábado, às 19h30; 8 de maio, domingo, às 10h.

Quinta do Pensamento (Literatura, Filosofia, Psicologia, Antropologia) – 05/05

22h30– “Vocacional - Uma Aventura Humana” (Documentário)

O cineasta Toni Venturi revisita uma página emocionante e ignorada da história da educação pública no país: os seis ginásios Vocacionais do estado de São Paulo, que na década de 1960 foram reprimidos pela ditadura militar. Concebidos por Maria Nilde Mascellani, uma das mais importantes educadoras brasileiras, os colégios tinham uma proposta à frente do seu tempo: fazer o aluno pensar, trabalhar em grupo e desenvolver a sensibilidade artística e as habilidades técnicas. Partindo do olhar pessoal do diretor, que participou dessa experiência escolar, através do depoimento de vários ex-alunos e ex-professores, o documentário contribui para a compreensão sobre a precariedade do ensino público atual e seus desafios para o futuro. Direção: Toni Venturi. Duração: 78 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 6 de maio, sexta-feira, às 2h30 e às 16h30; 7 de maio, sábado, às 13h30; 8 de maio, domingo, às 20h30; 9 de maio, segunda-feira, às 10h30.

Sexta da Sociedade (História Política, Sociologia e Meio Ambiente) – 06/05

23h30 – “Inconveniências Históricas” (Série) – Episódio: “Inconveniências na ABL”

A Academia Brasileira de Letras vem abrigando, desde a sua fundação, alguns dos maiores nomes da literatura nacional. Mas, tão notável quanto algumas presenças, são algumas ausências. Em especial a de negros e mulheres, raramente aceitos na instituição. Neste episódio, veremos como a formação do cânone literário nacional pouco tem a ver com produção literária, sendo antes determinada por questões materiais e sociais que refletem de maneira incômoda a estrutura desigual da sociedade brasileira. Direção: Belisario Franca, Pedro Nóbrega Duração: 26 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 7 de maio, sábado, às 3h30 e às 13h; 8 de maio, domingo, às 18h; 9 de maio, segunda-feira, às 17h30; 10 de maio, terça-feira, às 11h30.

Sábado – 07/05 – ESTREIA DE EPISÓDIO

21h – “Jazz” (Série) – Episódio: “O Dom”

A Era do Jazz começa como um conto de duas grandes cidades: Chicago e Nova York, e de dois artistas extraordinários cujas vidas e música abrangerão quase três quartos de século: Louis Armstrong e Duke Ellington. À medida que os prósperos anos 1920 avançam, Paul Whiteman, um líder de banda branco, vende milhões de discos tocando jazz sinfônico doce, enquanto Fletcher Henderson, um líder de banda negro, enche a pista de dança do Roseland Ballroom, apenas para brancos, com seus inovadores arranjos de big band. Então, em 1924, Henderson traz Louis Armstrong para Nova York, para usar o brilho de sua improvisação no novo som da sua banda. Logo, Armstrong mostra ao mundo todo como swingar. Direção: Ken Burns. Duração: 59 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 8 de maio, domingo, às 10h40; 9 de maio, segunda-feira, às 23h; 10 de maio, terça-feira, às 3h e às 17h; 11 de maio, quarta-feira, às 11h.

Domingo – 08/05

20h – “Nós, Documentaristas” (Série) - Episódio: “João Moreira Salles”

No primeiro episódio da série, lançada em 2018, João Moreira Salles, diretor de filmes como “Notícias de uma guerra particular”, “Entreatos” e “Santiago”, fala sobre o trabalho de criação de sua então mais recente obra, "No Intenso Agora". No decorrer do episódio, João vai revelando memórias, abordando dificuldades e resgatando histórias de seus filmes que, intercaladas com trechos das principais cenas, nos fazem mergulhar na sua trajetória. Direção: Susanna Lira. Duração: 26 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 4 de maio, quarta-feira, às 20h30; 5 de maio, quinta-feira, às 00h30 e 14h30; 6 de maio, sexta-feira, às 8h30.

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