Reprodução |
''Eu me importo pelo fato de você ser você, me importo até o último momento de sua vida e faremos tudo que está ao nosso alcance, não somente para ajudar você a morrer em paz, mas também para você viver até o dia da sua morte''. Esse pensamento é da médica, enfermeira e assistente social inglesa Cicely Saunders (1918-2005), pioneira no tratamento em cuidados paliativos. O intuito é oferecer conforto e qualidade de vida com alívio dos sofrimentos, sejam eles físicos, emocionais, sociais e espirituais, por meio de uma equipe de saúde multidisciplinar.
Esse é o tema do ''CNN Sinais Vitais'', com o Dr. Roberto Kalil, que vai ao ar nesta quarta-feira (18), às 22h30. O episódio “A medicina que alivia a dor” faz um panorama dos Cuidados Paliativos no Brasil, entrevista alguns dos maiores nomes da modalidade e acompanha a rotina de pacientes e familiares que tiveram acesso a esses serviços e mostra como isso transformou radicalmente suas vidas.
''No caso de um paciente com muitas dores por conta de um câncer, por exemplo, temos muitos caminhos para aliviar o sofrimento, em paralelo ao tratamento da doença. Não é que você passa o paciente para paliativo e nunca mais cuida dele, é você colocá-lo em cuidado paliativo de mãos dadas com o tratamento de base”, destaca a Dra. Ana Claudia Quintana, médica geriatra e autora do best seller no Brasil “A morte é um dia que vale a pena viver'' (Ed. Sextante/2016).
Segundo o médico intensivista e paliativista Dr. Daniel Neves Forte, o cuidado paliativo não busca cuidar da morte, e sim da vida. “As pessoas não querem morrer, elas querem viver bem e acho que é isso que o cuidado paliativo busca: cuidar da vida, e vida só é vida porque tem morte”, diz. “O médico fica com o foco tanto na doença, em querer consertá-la, que esquece do sofrimento”.
A produção do “CNN Sinais Vitais” acompanhou os trabalhos na área em um serviço público e outro particular de saúde. Na rede do SUS, a imersão foi no Hospital do Câncer IV, que é a unidade de Cuidados Paliativos do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Rio de Janeiro. A equipe vivenciou as modalidades de internação e atendimento domiciliar e conheceu a experiência pessoal com o tema de Ana Cristina Pinho, diretora-geral da instituição. O marido, médico anestesista do INCA assim como ela à época, morreu em casa recebendo esse tipo de tratamento. “Foi feita a tentativa de tratamento, mas a doença evoluiu. Nós demos tudo o que podíamos dar principalmente muito amor, muito afeto, muito respeito, muita dignidade e, inclusive, deixá-lo até o último momento lá perto da gente. Essa é aplicação prática do conceito dos cuidados paliativos”.
Na rede particular, a incursão do “CNN Sinais Vitais” foi na Clínica Florence, em Salvador, que completou quatro anos, e é a primeira unidade no Brasil criada exclusivamente para ser um Hospice (hospedaria) em cuidados paliativos para pacientes em fim de vida. As irmãs Quézia e Rebeca vivenciaram na unidade a perda da mãe, Maria Lícia, em 2019, por conta de um câncer de pulmão com metástase no cérebro. “A gente teve uma despedida digna, uma família acolhida e a dor amenizada”, relata Quézia. A bancária Maria Lícia faleceu no dia 25 de julho de 2019 realizando um sonho: ao lado da família, dos amigos e dos médicos que possibilitaram a divertida imersão dela em bolinhas coloridas de plástico.
Para o filósofo Mario Sergio Cortella, um dos entrevistados do episódio, esse é o universo dos cuidados paliativos quando o paciente está no cerne do cuidado, em que se respeita e se entende sua biografia. “Vou usar a expressão de um médico mineiro, Guimarães Rosa, a pessoa que sabe que há momentos em que a vida parece um grande sertão, mas tem veredas, tem veredas, e essas veredas são, em larga escala, aquilo que cabe aos cuidados paliativos”.
Embora seja fundamental, os cuidados paliativos ainda não são uma realidade difundida e com acesso para a população brasileira. Segundo o Atlas 2019 produzido pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), o Brasil possui cerca de 2 500 hospitais com mais de 50 leitos cada, porém apenas 5% deles disponibilizam uma equipe de cuidados paliativos. Quando se trata da modalidade de Hospice, existem apenas 12 instituições do tipo em todo o país.
O Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) em parceria com o Hospital Sírio-Libanês estão trabalhando em um projeto nacional para implementação de cuidados paliativos na rede pública. Entre os anos de 2021 e 2023, serão realizados treinamentos e implementação de protocolos da área em um conjunto de serviços de SUS (um hospital, um ambulatório de especialidades e um atendimento domiciliar) em cada um dos 27 estados brasileiros. O projeto foi publicado em Diário Oficial no dia 16/04/2021.
''CNN Sinais Vitais'', com Dr. Roberto Kalil, vai ao ar na quarta-feira (18/08), às 22h30, logo após o ''Jornal da CNN'', na faixa nobre da CNN Brasil.
Tags
Programação