Queda do poder aquisitivo dos clientes explica crise na TV paga, avalia presidente da Claro

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O mercado de TV paga perdeu milhões de clientes nos últimos anos. Apenas em 2019 foram quase 2 milhões de desligamentos por parte das operadoras, a maioria de usuários de tecnologia DTH (satélite).

Para José Félix, presidente da Claro, empresa que tem a maior quantidade de assinantes de TV do país, a explicação passa por uma análise da perda do poder aquisitivo do brasileiro nos últimos anos.

"Com o fato de ter rede e se prestar atendimento ao assinante, infelizmente acaba sendo um produto que não é para todos", diz Félix. "Por isso nossa busca incessante por achar modelo ou tipo de negociação com programadores que façam a TV por assinatura acessível para parte maior da população. Mas a TV 'top' não é barata, é um produto caro."

''É uma questão de renda. A TV por assinatura talvez tenha crescido acima da capacidade da renda do Brasileiro até 2017. A partir de 2018, começou a se ver a perda de base, que mais ou menos coincide com a [diminuição da] renda do Brasileiro'', disse hoje, 18, o executivo. Ele participou do evento virtual Pay TV Forum, realizado pelo site Teletime.

Ele explica a razão: "A TV por assinatura do jeito que a gente conhece, tradicional, é um negócio muito caro de se fazer". As contas são de que metade do valor do boleto pago pelos usuários já vai para tributos, e, do que sobra de receita para operadora, 51% é destinado ao pagamento pelo conteúdo. Por conta disso, e do caráter da operação de precisar lidar com "níveis de exigência elevados", alto custo de operação e de atendimento, o preço acaba sendo uma barreira.

O executivo explica que o custo de uma "caixinha" (set-top box) já custa quase R$ 650, e que o serviço com uma margem de R$ 30 acaba levando 20 meses apenas para pagar esse equipamento. Considerando também as despesas com programação, atendimento e manutenção, acaba que o produto se torna um desafio para a operação.

Por isso, José Félix enxerga que há um ajuste em relação à base. O próprio DTH da Claro é um dos responsáveis pela queda de assinantes presenciada nos últimos meses. "Era um serviço que estava claramente inchado, então estamos fazendo ajustes. Em tempos de vacas gordas, conseguimos manter ali um certo número de clientes no limiar do prejuízo. Mas quando aperta, a gente vai administrar. E eu avisei que iria fazer isso", destaca. Segundo ele, o "piso ideal" da base é uma conta difícil de se estabelecer.

A Claro foi uma das operadoras que mais desconectou clientes no DTH. Foram mais de 430 mil desativações de clientes nessa tecnologia ano passado. O CEO explicou que está havendo uma limpeza da base, termo usado pela indústria para retirar clientes que não são rentáveis e inadimplentes. E não deu previsão de quanto chegará ao fim essa iniciativa.

''Enquanto não terminarmos de limpar a base, vamos continuar perdendo assinantes. As coisas estão se ajustando, indo para o lugar. O próprio DTH da Claro era um serviço que estava inchado'', afirmou, prevendo a retração continuará ''por algum tempo'', mas os sinais já são melhores que em 2019.

NETFLIX NÃO EXPLICA

Para o CEO da Claro, não está evidente que a queda na TV paga se deve à competição com OTTs como o Netflix. Para ele, o consumidor quer os dois produtos: TV por assinatura e aplicativo.

''Quem pode, acaba tendo assinatura de TV e pacotes de Netflix. Ao redor do mundo, os sinais são confusos. Tem países que estão crescendo em TV paga. Dos países atendidos pela AMX, o Brasil tem uma das piores performances do mundo em termos de perda de numero de assinantes, e portanto tem relação com a renda do brasileiro'', acrescentou.

PRODUTO PARA CLASSES AB

Para ele, a tendência é que a TV paga deixe para trás a expectativa de se popularizar, para se tornar um produto restrito às classes A e B. ''O fato de ter rede e prestar o serviço que se presta ao assinante, infelizmente, faz com que não seja um produto para todos. Aquela TV por assinatura top top que conhecemos, não é barata, é cara''.

Félix fez algumas contas rápidas para demonstrar como o custo do serviço é maior do que produtos como aplicativos totalmente baseados na internet, conhecidos como OTTs. Lembrou que uma operadora de TV usa call center, tem custo de aquisição, loja, atendimento, manutenção com níveis elevados de exigência e obrigações. Além disso, tem alta carga de impostos.

''Do que sobra da receita, 51% vão para pagar as produtoras de conteúdo. A TV por assinatura como a gente conhece, tradicional, é um negócio muito caro de se fazer'', frisou. Outro exemplo de custo alto está no hardware. Segundo ele, o set top box usado na TV por assinatura custa R$ 650. ''Para uma margem de R$ 30, você leva 20 meses para pagar só a caixinha'', resumiu.

CAIXINHA COM AUTOINSTALAÇÃO

Diante do dilema, a Claro está se mexendo. A companhia prepara o lançamento de um produto de custo menor para a empresa, em que o consumidor adquire e instala por conta própria a “caixinha” em sua casa. O sinal da TV vem pela internet.

''Não temos data para lançar, é um produto de valor adicionado, que a gente imagina que o assinante possa instalar sozinho, possa ter um autoatendimento mais digital, e com isso a gente consiga diminuir custos que temos hoje. Por que a caixinha? Porque as pessoas gostam da caixinha'', afirmou.

Segundo ele, o produto terá um modelo de empacotamento diferente, livre das ''amarras'' atuais. E tem por objetivo permitir que a Claro atue como um ''hub de conteúdo'' na casa do consumidor.

*Com informações Telesíntese

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