Divulgação Globo |
Primeiro filme de ficção exclusivo Globoplay, ‘Breve Miragem de Sol’ estreia na plataforma neste domingo, dia 30 de agosto. Do diretor Eryk Rocha e com Fabricio Boliveira e Bárbara Colen no elenco, o longa é ambientado no Rio de Janeiro e retrata um Brasil contemporâneo através das trajetórias que se cruzam dentro de um táxi na capital carioca.
No comando do volante está Paulo (Fabricio Boliveira), cuja saga é marcada por solidão e medo, busca pela sobrevivência e reinvenção. Vivendo à própria sorte e recentemente divorciado, ele começa a trabalhar como taxista em jornada noturna e se depara com todo o caos e frenesi das madrugadas cariocas. “Trabalhei diretamente pelas noites do Rio de Janeiro durante meses de preparação, com novos e antigos taxistas. Foi incrível estar nos grupos de whatsapp deles e encarar uma realidade cruel na cidade somada à solidão desses profissionais”, relembra Fabricio Boliveira. Na esperança de voltar a conviver com seu filho, Mateus, Paulo encontra no novo trabalho a chance de um recomeço. Enquanto dirige, as histórias dos passageiros misturam-se às de sua vida, que ganha um novo fôlego com o embarque da enfermeira Karina (Bárbara Colen).
No total, foram sete semanas de filmagem e aproximadamente uma equipe de 50 pessoas. A cidade do Rio de Janeiro é um personagem e toda sua pulsação está presenta no longa. “Fizemos um filme de ficção com um espírito muito documental, uma equipe muito pequena e sem grandes maquinários”, adianta o diretor Eryk Rocha. Bárbara Colen complementa: “Era um processo em constante mutação. Tudo estava em aberto, esperando ser transformado pelas circunstâncias reais que vivíamos na filmagem de cada cena.”
Com estreia internacional no festival BFI de Londres (2019), a obra e o elenco foram premiados em renomados festivais nacionais e internacionais como o Festival Internacional de Cinema de Gotemburgo (2019, Suécia) e o Festival do Rio 2019, que rendeu a Fabricio Boliveira o prêmio de Melhor Ator. A obra é uma coprodução Aruac Filmes, Globo Filmes, VideoFilmes, Canal Brasil, Varsovia Films (Argentina) e Tu Vas Voir (França).
Entrevista com o diretor Eryk Rocha
- Como surgiu a ideia de fazer o filme?
“Breve Miragem de Sol” é um filme que nasce da minha observação e escuta da cidade que cresci e vivi parte significativa da minha vida, o Rio de Janeiro. Dentro dessa cidade intensa, caótica e contraditória, os trabalhadores e habitantes que transitam pela noite da cidade, especialmente os taxistas, sempre me interessaram. Eles são os que ouvem e propagam as histórias, são testemunhas vivas do nosso tempo. ‘Breve Miragem de Sol’ propõe um cinema de rua, onde a ficção se abre ao documentário, ao imponderável da vida e da cidade. O filme tem algo do “diário de um trabalhador”, e todos os momentos do filme fazem parte da sua vida, do seu cotidiano.
- Como a linguagem artística contribui para traduzir esse momento da vida de Paulo?
"Breve Miragem de Sol" nasce também de encontros que foram fundamentais para a existência do filme. Encontros com outros criadores que já venho trabalhando há muitos anos. Por exemplo, o diretor de fotografia Miguel Vassy, que realizou um trabalho visceral e corajoso na criação da imagem do filme. Outra pessoa decisiva nesse processo foi o Renato Vallone, montador brilhante e muito talentoso com o qual tive o presente de trabalhar nos meus últimos filmes. Com Miguel e Renato, sempre conversamos muito sobre necessidade da fotografia e da montagem incorporarem os fluxos e a pulsação do próprio Paulo, os trajetos, os sobressaltos, os desvios, a solidão, as dificuldades, o caos.... Ou seja, jogar o espectador para dentro daquele taxi, fazê-lo virar o Paulo e vivenciar esse turbilhão de experiências de um homem que está em constante movimento, em embate com esse país-labirinto chamado Brasil.
- Apesar de ter o recorte do Rio de Janeiro, é uma realidade de muitos brasileiros. Como o público vai se identificar com a história?
O filme expressa a complexa e convulsionada realidade brasileira atual por meio de um homem que sente solidão, medo, risco, cansaço, sobrevivência e busca pela reinvenção. Paulo é um narrador do nosso tempo, em movimento, imerso no caldeirão de uma metrópole latino-americana e de um país em transe.
- Como a música está inserida no longa e como ajuda a contar essa história?
A música tem um papel essencial na narrativa e linguagem do filme, e vai permeando os estados de espírito e emoção do nosso protagonista. A trilha original foi feita por Ava Rocha, Negro Leo e Kiko Dinucci, três grandes e poderosos artistas da minha geração que admiro muito. Além da bela e forte música diegética que tem Caetano Veloso, Mart’nália, Letrux, Saskia e a maravilhosa música angolana do Deejay Telio.
Entrevista com o ator Fabricio Boliveira
- Como você pode definir o Paulo?
Um brasileiro contemporâneo em transformação. Um homem de uma grande capital lidando com os aspectos do machismo, do racismo e tendo que dar conta das responsabilidades pessoais. Um homem driblando os estereótipos.
- Como foi seu processo de preparação para viver o personagem?
Trabalhei diretamente pelas noites do Rio de Janeiro durante meses de preparação, com novos e antigos taxistas. Foi incrível estar no grupos de whatsapp deles e encarar uma realidade cruel na cidade somada à solidão desses profissionais. Fiz bons amigos.
- O que foi mais surpreendente e desafiador durante este trabalho?
Eryk Rocha me pediu uma interpretação que se somasse aos taxistas reais e não se destacasse tanto. Tive que ser muito minucioso nas relações com eles e deixá-los livres para, a partir daí, compor em cima das variações de energia que eram propostas também por eles. Um diálogo profundo entre realidade e ficção. Uma outra peculiaridade desafiadora era não conhecer os atores profissionais e “não atores “ que entravam no meu táxi. Era tudo improvisado em cima do roteiro. Eu recebia o endereço de onde tinha que buscá-los e de lá me encaminhava paro endereço que eles desejavam, como um taxista comum.
Entrevista com a atriz Bárbara Colen
- O que mais chamou sua atenção neste trabalho?
Para mim, acho que a coisa mais marcante neste trabalho foi a maneira como o Eryk, desde a preparação, nos conduziu por um processo híbrido entre ficção e documentário. Era uma história ficcional, sem dúvidas, tínhamos um ótimo roteiro em mãos, muito trabalhado e pensado. Porém, desde o meu primeiro teste, já senti um interesse muito grande do Eryk pela minha história pessoal, pela maneira como eu, Bárbara, poderia conduzir a construção da Karina. Isso me possibilitou uma abertura para trazer histórias de minha vida, por exemplo, da minha avó, que era também enfermeira.
- Como você pode definir a Karina?
A Karina é uma mulher brasileira. Uma profissional da saúde que dedica sua vida à sua profissão. E dedica não só o seu tempo, quanto seu amor e cuidado ao tratamento das pessoas. É uma mulher consciente, pragmática, que não se ilude em relação à vida, mas que, tampouco, se aliena na rotina massacrante, pois está consciente do que acontece a sua volta. Tem uma visão crítica das condições políticas e sociais da cidade e do seu país, do seu tempo, das dificuldades que enfrenta no dia a dia do hospital. Mas é alguém que tem desejo pela vida. Quer se sentir bem, busca momentos de fuga, de pequenas alegrias, de alguma leveza. E é também uma mulher que tem consciência sobre a sua condição de mulher. Tem dúvidas em relação à maternidade, e para quem seu trabalho e independência são questões prioritárias na vida.
- Como foi seu processo de preparação para viver a personagem?
Foi um processo longo, de aproximadamente 3 meses. Tive um mês de preparação no Rio. Então, me mudei para o Rio e durante toda a preparação morei realmente na Zona Norte, porque era onde a personagem vivia e trabalhava. Fiz diversas visitas a hospitais para entender na prática como era a dinâmica dos plantões nos pronto-socorros. E com essas visitas ia coletando informações, sensações, elementos que trazia para os encontros que tinha com Eryk e Fabrício. A partir daí, discutíamos as cenas e adaptávamos pontos do roteiro relacionados com as novas experiências.