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“Tudo conspirou para que eu não tocasse mais piano na minha vida. Mesmo assim, dei mais de dois mil concertos no exterior. Mais de mil, tocando piano”, afirma o maestro e pianista João Carlos Martins, conhecido pelo perfeccionismo e tido como o melhor intérprete em atividade do compositor alemão Johann Sebastian Bach. O músico bate um papo com a jornalista Katiuscia Neri no Impressões inédito que a TV Brasil exibe no domingo, dia 19, às 22h30.
Conhecido pelos dedilhados certeiros ao piano e pela capacidade indiscutível de emocionar o público com suas regências, Martins relembra momentos da sua trajetória de superação, disciplina e reconhecimento. A carreira do maestro começou aos 8 anos de idade, quando já compunha ao piano obras de nível profissional.
“João, o Maestro” é o título do filme que conta a história de João Carlos Martins. Mas, para ele, o filme deveria se chamar “O sobrevivente”, diz entre risos. O perfeccionismo de Martins fez surgir seu primeiro grande desafio: distonia focal, doença comum àqueles que buscam ultrapassar seus limites de motricidade. Depois da distonia, Martins ainda sofreu um acidente que lesou suas mãos, enfrentou problemas com a Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e uma forte lesão cerebral agravou suas capacidades cognitivas e motrizes. Mas, nada disso o parou.
Martins passou quatro anos de sua carreira usando apenas a mão esquerda para tocar. Pouco depois, a limitação se agravaria às duas mãos, das quais conseguia usar apenas alguns dedos. O que já era um desafio tornou-se uma missão quase impossível: tocar apenas com os dois polegares. Nada parava o mestre. A batalha, que perdurou por mais de duas décadas e 24 cirurgias, só deu trégua quando um designer de tecnologia elaborou uma luva biônica. O aparelho permitiu ao instrumentista voltar à sua plena capacidade.
“Não vou ser nunca o músico de antigamente, mas o simples prazer de colocar os dez dedos no teclado para realizar uma música, isto, me dá uma satisfação enorme”, confessa.
Em momento algum, Martins cogitou a possibilidade de se afastar da música clássica. Enquanto pôde, tocou e procurou a precisão e a velocidade ideais para interpretar composições de grandes nomes. Quando as limitações se intensificaram, ele se lançou à regência de orquestras que encheriam corações de emoção.
“A música explica que Deus existe”, afirma ao citar casos como o do compositor Ludwig van Beethoven, que, mesmo surdo, compôs obras reconhecidas universalmente. “Quando você está na frente do seu companheiro (o piano, no seu caso) ou de uma orquestra, a missão é transmitir emoção. A missão de um artista é chegar ao coração do público”, conclui.
“Aos 80 anos, estou anunciando planos para os próximos 20 anos. Aos 80 anos, você pode encarar a idade como início ou fim de uma carreira. Eu encaro como início”, revela o maestro, que agora debuta nas redes sociais e já conta com mais de 170 mil fiéis seguidores – desafio imposto pelo isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. “A esperança nunca pode sair do seu dicionário ou rotina.”
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