Canal Brasil fez live em defesa da Cinemateca Brasileira

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Na noite de quinta, 30/08, o repórter Kiko Mollica conduziu, no Instagram do Canal Brasil, uma live com grandes nomes do cinema brasileiro para conversar sobre a crise atual e na importância que a Cinemateca Brasileira tem para a preservação, restauração e difusão de obras cinematográficas históricas e contemporâneas. Cacá Diegues, Mariana Ximenes, Tata Amaral, Débora Butruce, Roberto Gervitz, Kleber Mendonça Filho, Jeferson De, Bárbara Paz e Monica Iozzi participaram do bate-papo ao vivo.

Quem abriu a noite foi Cacá Diegues. O cineasta, cujas obras fazem parte do acervo da instituição, afirmou que “a Cinemateca é um museu do olhar. É através da Cinemateca que você conhece um país, uma nação. Não só o que se passou, mas como você viu o que se passou. A Cinemateca Brasileira é uma cinemateca de ponta. Tanto que eu botei os meus filmes lá, a obra do Glauber [Rocha] está toda lá”. Sobre a possibilidade de fechamento, Diegues disse: “Quando eu penso nisso me dá um frio na espinha. Se a Cinemateca acabar nós vamos perder a memória do cinema brasileiro, a memória do Brasil, o que aconteceu no Brasil nesses últimos anos”.

Em seguida, Mariana Ximenes também conversou com Kiko. A atriz, que cresceu no bairro da Vila Mariana, onde a Cinemateca está localizada, afirmou que tem uma relação afetiva com o lugar. “É uma memória viva, é um patrimônio histórico do nosso país e conta a história do nosso povo. A gente não pode deixar morrer”, pediu.

A cineasta Tata Amaral deu um depoimento longo e emocionado. Ela afirmou que, no ano passado, recorreu muitas vezes ao acervo da Cinemateca como fonte de pesquisa para a sua série “As Protagonistas”, sobre as mulheres pioneiras do audiovisual brasileiro. Ao falar sobre os trabalhadores da Cinemateca, que estão sem receber salário desde março e que serão homenageados com o Prêmio Humanidade, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, afirmou: “Eu tenho vontade de chorar quando eu penso nisso, porque é tão forte, é tão bonito esse reconhecimento. Quem acompanha a Mostra sabe que esse é um prêmio que normalmente é dado a grandes personalidades do cinema mundial. E é verdade que, hoje, as grandes personalidades do cinema mundial são os trabalhadores da Cinemateca”.

Mollica recebeu ainda a vice-presidente da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, Débora Butruce, que explicou o papel que a Cinemateca tem de preservação e restauração; e o cineasta Roberto Gervitz, coordenador do grupo de trabalho da Associação Paulista de Cineastas (Apaci) – SOS Cinemateca, que explicou a crise que a instituição atravessa, desde o seu início, em 2013.

Kleber Mendonça Filho comparou o descaso com a Cinemateca à situação da saúde: “É muito triste isso que a gente está vivendo e está observando. Eu acho que tem um paralelo interessante com a saúde no Brasil. Uma pandemia mundial e o governo simplesmente não está nem aí”. Quando perguntado sobre outras cinematecas mundo afora, respondeu: “Elas [as cinematecas em outros países] são tratadas como estufas, como jardins. Uma cinemateca, um arquivo, funciona como um depósito de sementes”.

Outra comparação repleta de lirismo para Cinemateca foi a de Jeferson De: “É a minha casa, a casa da minha mãe. A casa onde eu me nutri, onde eu fui amamentado, onde eu fui acarinhado. Onde eu busquei referências”. E complementou: “Alguém pode imaginar ‘ah mas na Cinemateca só tem imagem de gente branca, não tem nada a ver com a afro brasilidade’. Não não não não não! Aí é que mora o equívoco sobre a nossa memória. E a Cinemateca é só um exemplo imenso do quanto de diversidade o cinema brasileiro pode ter e pode ser”. De usou o acervo da Cinemateca para produzir seu primeiro curta, ‘Carolina’ – foi lá que encontrou as imagens da escritora Carolina de Jesus que usou na obra.

Quem também recorreu à instituição recentemente foi Barbara Paz, que na live afirmou: “Eu não faria o filme [‘Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou’] se não fosse o material de arquivo que tem na Cinemateca. O que eu precisei pra fazer o documentário estava lá”. Barbara é viúva do cineasta Hector Babenco, que morreu em 2016 vitimado por um câncer e teve o corpo velado na Cinemateca.

O depoimento que encerrou a noite foi o de Monica Iozzi. “Deixar de cuidar da Cinemateca é deixar de cuidar da memória do Brasil”, afirmou.

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