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Na semana em que se reflete sobre a assinatura da Lei Áurea (13 de maio de 1888), o 3º episódio da série Sankofa – A África que Te Habita debate a negação da herança ancestral e as consequências para o Brasil. O programa, que vai ao ar nesta sexta-feira, dia 15, às 20h30, pelo canal de TV por assinatura Prime Box Brazil, também percorre a Casa dos Escravos e sua Porta do Não Retorno, no Senegal.
País de onde partiram menos escravos para o Brasil, em sua maioria para o Maranhão, Senegal é um local emblemático da diáspora africana. Por lá, o fotógrafo afro-brasileiro César Fraga e o historiador de origem europeia Maurício Barros de Castro presenciaram um grupo de crianças que aprendiam sobre sua própria história em visita à Casa dos Escravos. Localizado na Ilha de Gorée, o local de paredes na cor rosa é constituído por escadaria central, andar superior onde ficavam os traficantes de pessoas escravizadas e celas em andar inferior.
“Foi a primeira vez que a gente viu e entrou nas celas onde eram armazenados os antigos escravizados, então foi duro. Não foi fácil. No meio dessa porta de baixo, tinha uma porta que seria a primeira das Portas do Não Retorno, que a gente veria ao longo da viagem. Esses espaços eram por onde saiam os escravizados que seriam comercializados nas Américas e, possivelmente, não voltariam para África”, relembra César. Neto de mulher escravizada, o carioca idealizou expedição por nove países da rota da escravidão transatlântica em busca da memória de seus ancestrais. Ao longo de 60 dias de viagem, produziu cerca de quatro mil fotos de lugares e pessoas.
“Há toda uma controvérsia em torno da real importância daquela Casa dos Escravos, que não era originalmente construída pelos portugueses. Era uma casa construída pelos holandeses, no século XVIII. Os lugares de memória da escravidão são controversos e você atravessa tensões históricas e atuais, disputas por narrativas, como celebrar o lugar da dor, como transformar aquilo em um monumento e da perspectiva de quem. O tempo todo passamos por essas questões nos lugares que visitamos”, explica o especialista em diáspora africana Mauricio, convidado por César para a expedição.
Por outro lado, o episódio retratará a trajetória de deturpações, preconceitos e racismos estruturais que os brasileiros são submetidos em relação a sua ancestralidade. “Essa negação da história de África, que chegou em alguns momentos a importantes pensadores dizerem que a África não tinha história, causou um desserviço não só para a África, mas para toda a humanidade. A nossa humanidade ficou incompleta. No caso dos brasileiros, a nossa identidade ficou incompleta. Como se faltasse algo fundamental para olharmos a nós mesmos”, argumenta Mônica Lima, professora de História da UFRJ.
Sankofa – A África que Te Habita é assinada pela FBL Criação e Produção, dirigida por Rozane Braga, roteirizada por Zil Ribas e com fábulas mitológicas narradas pela atriz Zezé Motta.
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