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O Brasil alcançou a segunda posição no ranking de casos de Covid-19. Com esse resultado fatídico, o programa Impressões, da TV Brasil, que vai ao ar neste domingo (31), às 22h30, convida o filósofo Luiz Felipe Pondé para falar sobre os impactos sociais da doença.
"A epidemia é uma doença social", define Pondé durante o papo com a jornalista Katiuscia Neri gravado via Skype na tarde desta sexta-feira. "O número de mortes perto das pessoas, gera um sentimento de insegurança e desespero", comenta o escritor pernambucano que tem entre suas publicações os livros "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia" (2012) e "Marketing existencial" (2017) entre tantos outros.
Para o filósofo, o lockdown também tem que ser analisado do ponto de vista social. "O Brasil não pode fazer lockdown completo. É uma ilusão. Muita gente anda na rua porque senão passa fome", pondera o entrevistado.
"Então eu acho que às vezes a discussão fica meio de grife. A classe média alta discutindo um país que não existe. O Brasil é uma Bélgica cercada por uma Índia", reflete Pondé se referindo às diferentes realidades sociais do país.
Na conversa com a jornalista Katiuscia Neri, o filósofo arrisca: "uma cultura como a nossa, em geral, viciada em sucesso, em controle, em bons resultados e eficácia, não saber exatamente o que vai acontecer é motivo de enorme estresse".
Pondé alerta que o mundo sempre passou por epidemias e cita, na conversa, a peste negra e a gripe espanhola. Mas, segundo ele, a atual geração sofre com o limite de tolerância com a falta de controle. "É uma geração mal acostumada, que só acumulou sucessos. Isto não é ruim, mas criou em nós um hábito".
"Filosoficamente eu diria que a gente está tendo uma experiência de algo incontrolável", analisa. Para ele, tudo ficou previsível para a atual geração, como o avanço da medicina, a longevidade e a evolução de questões relacionadas aos direitos humanos.
"A epidemia é um exemplo do que os gregos chamavam de 'Fortuna Cega', alguma coisa que nos acomete e a gente fica sempre parecendo que está um passo atrás. No caso do Brasil, acho que é um cruzamento entre essa crise sanitária, essa crise econômica e um desgoverno político que a gente está vivendo".
Solidariedade ilusória
Em tom realista, Pondé afirma que não há sinais de que a pandemia gere maior solidariedade e compaixão. Para o filósofo, as manifestações humanísticas refletem, na maior parte dos casos, interesses empresariais.
"A solidariedade que tem ocorrido, em alguns casos, ela vai de braços dados com marketing, que a priori, não significa que é ruim. É até uma sorte para quem recebe ajuda. O fato de que ajudar agrega valor a marca, seja empresa, seja pessoa. É claro que você tem, no começo, o caso de jovens que se dispuseram a ajudar idosos no prédio e coisa e tal", reconhece.
De acordo com Pondé, historicamente, as epidemias não aumentam a solidariedade em nível significativo. "Elas causam transtornos nas relações de oferta e demanda, elas causam pressão, no sentido de avanço técnico, elas forçam os gestores a serem criativos – isso é bom –, mas, do ponto de vista do comportamento humano, as epidemias e grandes tragédias, reforçam vícios, reforçam o oportunismo, a exploração", afirma.
Quando se trata das previsões para o pós-pandemia, Pondé rebate o otimismo desmesurado dos que acreditam que o mundo a partir de agora será um mundo sem consumo. "Ele vai ter menos consumo porque as pessoas vão estar mais pobres, por isso que vai ter menos consumo. As pessoas não vão se tornar 'não consumistas' de uma hora para a outra, porque inclusive o consumo é uma prática que sustenta a economia", justifica.
Para ele, "o pessimismo absoluto é achar que (a pandemia) é o apocalipse, que é a peste negra, que vai todo mundo morrer, que o mundo vai acabar. "A gente vai passar uma época difícil, com mais estresse, mais custo, o próprio custo da biossegurança vai aumentar".
Pondé acredita que "a maior parte das pessoas negocia qualquer liberdade em troca de segurança e saúde. E é isto que está acontecendo", conclui.
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