O mais novo imortal da Academia Brasileira de Letraspode ser também o próximo cineasta brasileiro a ver uma produção sua concorrendo ao Oscar, a maior premiação do cinema mundial com "O Grande Circo Místico".
O experiente Carlos Diegues, ou simplesmente Cacá Diegues, é entrevistado no programa Conversa com Roseann Kennedy deste segunda (17), às 21h15 na TV Brasil.
O diretor está em cartaz com o filme "O Grande Circo Místico". A produção lírica foi escolhida pelo Brasil para representar o país na disputa por uma indicação ao Oscar 2019 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
A lista dos nomeados será divulgada em janeiro. Mas Cacá não supervaloriza o prêmio. Para ele, a crítica do público está acima de tudo. "Eu não faço do Oscar o juiz supremo do cinema brasileiro. Aliás, de nenhum filme do mundo, mas do brasileiro sobretudo. Quem julga a qualidade do filme é o expectador", diz.
Cacá Diegues avalia que esse é o seu melhor filme. "É uma síntese de tudo o que eu fiz em cinema até hoje, é uma síntese do que eu penso do cinema", detalha. "O Grande Circo Místico" é uma adaptação de um poema do alagoano Jorge Lima. A obra narra a história de cinco gerações de uma família circense e é embalada pelas músicas de Edu Lobo e Chico Buarque.
Cinema da América Latina
A produção é resultado de 12 anos de trabalho de Cacá Diegues, que também considera ser uma obra diferente do que se produz atualmente na América Latina. "O que se espera do cinema latino americano é um cinema realista, dentro do que eles acham que é a América Latina. E esse é um filme mais fantasia, meio barroco, com imagens que não são propriamente realistas", compara.
Ao falar do futuro do cinema, Diegues é otimista. Ele destaca que o Brasil está produzindo quase 180 filmes por ano e muito conteúdo de qualidade. "Temos cineastas estreando com ótimos filmes que estão ganhando prêmios no exterior e recuperando o prestígio do cinema brasileiro", comemora.
"Streaming é a plataforma do momento"
Quanto à revolução tecnológica que hoje atinge todas as artes, o cineasta não titubeia ao responder que o futuro do cinema está na tela do celular. "A gente tá filmando para o cinema, para o DVD, para a televisão e também para o streaming. O streaming é a plataforma do momento", avalia.
"Quantas pessoas estão vendo, como é fácil você ter (acesso ao filme). No dia que o streaming for uma indústria, uma economia viável dentro do Brasil, você vai ver filme um atrás do outro", vislumbra o cineasta.
"Patrulhas ideológicas"
Ainda sobre esse avanço digital, Cacá Diegues reclama de quando o Festival de Cannes proibiu os filmes exibidos em plataforma de vídeo pela internet. "Achei de um reacionarismo insuportável", diz, expondo uma de suas características que é não ter medo de criticar nem de ser criticado.
Em 1978, por exemplo, para rebater críticas dos que exigiam postura política mais contundente nos seus filmes, Cacá se queixou das "patrulhas ideológicas". O que ele não imaginava à época era que a expressão de sua autoria seria tão atual até hoje.
"Eu não faço o filme para mudar a opinião de ninguém. Eu faço filme sobre o estado do mundo. Eu não faço filme nem para o passado, nem para o futuro. Eu faço o filme sobre o presente, sobre o que eu acho sobre o estado do mundo para os meus contemporâneos. Então vamos ver juntos isso, vamos discutir juntos. Agora, porque a ideologia tá errada, aí eu já não sei”, desabafa.
Carreia e filmografia
Crítico refinado e cineasta reconhecido, Cacá Diegues conseguiu fazer o público enxergar com mais clareza a realidade brasileira através de suas lentes. Considerado um dos fundadores do Cinema Novo, o diretor é premiado no país e também tem reconhecimentos no exterior.
Com dezenas de longas em sua vasta filmografia, Cacá é diretor de produções elogiadas como "Bye Bye Brasil" (1979), "Tieta do Agreste" (1996), "Orfeu" (1999), "Deus é brasileiro" (2003), "O Maior Amor do Mundo" (2006).
Este ano, em 30 de agosto, o cineasta foi eleito o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras, na cadeira de nº 7, que já foi ocupada pelo escritor Euclides da Cunha e por um dos fundadores da casa, o jornalista Valentim Magalhães. A vaga estava aberta desde a morte do também diretor de cinema Nelson Pereira dos Santos, em abril.
Cacá Diegues publicou alguns livros em sua trajetória, nem sempre relacionados cinema, a partir de "Ideias e Imagens" (1988). As obras mais recentes do autor são "Vida de Cinema" (2014), com mais de 600 páginas sobre o Cinema Novo, e "Todo Domingo" (2017), uma coletânea de seus textos publicados semanalmente em jornais.
Como afirma na entrevista para a jornalista Roseann Kennedy na TV Brasil, o recente filme "O Grande Circo Místico" (2018) coroa uma carreira repleta de obras importantes para a sétima arte nacional. Com entusiasmo, Cacá Diegues segue em atividade no cinema brasileiro aos 78 anos.
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