Especial “Alimentação para o Futuro”- Semana Dia Mundial da Alimentação. (Imagem/Divulgação) |
“Meu esforço foi o de descobrir novos Brasis com gostos e hábitos diferentes”, explica Valdemar Jorge. “Mas com uma preocupação geral das pessoas em comer melhor, comer comida de verdade, em procurar outros sabores e resgatar receitas ainda vivas na memória familiar”. O documentário, que teve a consultoria técnica da professora e nutricionista Cláudia Treumann, passeia pelas várias regiões do país para explorar e misturar os três grandes vértices da culinária nacional - o indígena, o europeu e o africano – e mostra que uma alimentação saudável está sempre associada ao uso de ingredientes frescos e disponíveis na natureza.
Alimentação para o futuro conta com depoimentos do médico Carlos Augusto Monteiro, autor do Guia Alimentar do Brasileiro; dos professores Romero Ximenes, antropólogo e sociólogo da UFPA, Jefferson Bacelar, do Centro de Estudos Africanos da UFBA; Carlos Alberto Dória, autor de livro sobre a formação da culinária brasileira; da historiadora Carolina Figueira ; do agricultor orgânico Geraldo Rodrigues; da engenheira de alimentos da CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de SP) Anita Gutierrez; da jornalista Cláudia Visoni, fundadora da Horta das Corujas; e do chef de cozinha Alex Atala , de São Paulo, que afirma: “A comida do futuro não é uma nova maneira de cozinhar e, sim, uma nova relação com o alimento em que há um aproveitamento total do que se produz”. Atala é o chef brasileiro mais prestigiado no mercado internacional, também grande defensor e divulgador dos ingredientes nacionais.
A tradição indígena é bem representada na região Norte, em Belém do Pará, onde o açaí, o guaraná e o tucupi ou técnicas como a puqueca, em que peixes são assados em folhas de plantas, participam da alimentação cotidiana. A influência africana se manifesta plenamente em Salvador, na Bahia, onde o azeite de dendê é ingrediente dominante e se destacam pratos como o acarajé, o efó e o caruru. A força da culinária europeia aparece nos doces mineiros da região de Ouro Preto. O tom geral é que a alimentação brasileira se sustenta sobre essas três influências, que se articulam para criar uma culinária nacional. O arroz e feijão, por exemplo, combinação clássica do prato brasileiro, mistura o arroz trazido pelos europeus a partir do século XIX com o feijão americano.
Alimentação para o futuro ouve também importantes chefs de cozinha das três regiões visitadas que preparam um prato tradicional e falam de suas experiências com ingredientes nativos. O premiado paraense Leonardo Modesto, em Belém, exibe a preparação na puqueca de um peixe chamado filhote, marinado em temperos como o cipó de alho e a alfavaca. A chef Angélica Moreira, do restaurante Ajeum da Diáspora, em Salvador, faz um efó, prato que ela define como “afetivo e familiar”, de origem africana, que utiliza ingredientes como o camarão seco e a língua de vaca (espinafre). Já em Ouro Preto, no distrito de Santo Antônio do Salto, a cozinheira Heloísa Moutinho prepara um prato clássico da cozinha mineira com o umbigo de banana: angu, com feijão, couve e carne de porco. “Angu é o pai da casa, se não tiver angu ninguém fica de barriga cheia”, diz Heloisa. Ainda na região, no distrito de São Bartolomeu, conhecido pela tradição secular de produzir doces, Pia Chaves Guerra faz uma iguaria chamada laranjada e revela que “o sabor incomparável dos doces da região se deve às frutas, que são apanhadas no pé, sem agrotóxicos”, conta.
O documentário detém-se também sobre o desperdício em toda a cadeia de produção e comercialização dos alimentos. Essas perdas, muitas vezes, estão associadas aos problemas banais como a estética de produtos agrícolas, quando os mais feios são descartados porque estão fora do padrão de consumo. “Fala-se em 35% a 40% de perdas”, diz o engenheiro agrônomo e professor da Esalq/USP, Paulo César Tavares. “É impressionante o que se joga no lixo de alimentos que não têm nenhuma forma de aproveitamento.” Na Central de Abastecimento de São Paulo (CEAGESP), 1% das 11 mil toneladas de alimentos comercializadas por dia é descartado. O fenômeno das hortas urbanas, que começam a proliferar em parques e áreas livres de grandes metrópoles, como São Paulo, e o consumo de plantas alimentícias não convencionais (PANCs) merecem destaque.
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