Vera Holtz é a convidada do "A Arte do Encontro" . (Imagem/Divulgação) |
Convidada de Tony Ramos no "A Arte do Encontro" que vai ao ar nesta quarta, às 21h30, no Canal Brasil, Vera Holtz reflete sobre fé, passagem do tempo e representação. No estúdio, a dupla lê passagens de obras de Hilda Hilst, Wislawa Szymborska e Fernando Arrabal. A seguir, algumas palavras de Vera:
Representação como sobrevivência: Representar no sentido que temos múltiplas identidades. Acho que você tá representando o tempo inteiro, sim, cada hora você está com uma identidade, sim. Eu tenho uma identidade em Tatuí, uma identidade São Paulo, uma identidade Globo, né? Uma identidade teatro... Esse enxame de identidades obviamente que você está sempre representando,atuando, se apresentando de múltiplas formas. Assim que eu acredito, sim.
Como vê o mundo hoje: A sensação que eu tenho é que estamos vivendo no período de dois impérios, algo se vai, algo está por vir, mas ninguém sabe o que é. Então eu tenho a sensação que estou neste barco, e tendo a chance, única, de viver o momento de mudança de império. O que vai comandar o mundo daqui pra frente, que tipo de pensamento nós vamos ter? Onde nós estamos, o sapiens? Será que o Homo Sapiens já mudou? Está na área ainda ou já se foi? Sinto essa grande curiosidade com esse momento histórico que a gente está vivendo, raro, a oportunidade de viver esse momento.
Crença no amor: Acredito, bastante, amei muito. Hoje, por exemplo, nasceu meu sobrinho-neto. Eu nunca tive filhos e nunca acompanhei nenhum nascimento, porque eu sempre estava trabalhando. Eu tenho sete sobrinhos mas nunca os vi pequetitos, e essa sensação de amar, esse sentimento que surge em você, inesperado, renova, né? Não só no amor do casal, mas o amor da vida, da humanidade, amor pelo outro, pelo teatro, pela palavra. Tudo em mim passa por isso.
Passagem do tempo: Eu nem sinto, Tony, nunca senti. Só percebo que o tempo passou porque vai mudando, né? A minha pele já está se apresentando de forma diferente pra mim. Quando eu olho no espelho o reflexo que vejo não é o que está dentro de mim, é externo. Isso fisicamente, tá? Espiritualmente foi uma coisa sensacional, uma expansão de consciência cada vez mais, quando senti que me alarguei mais, comecei a ver o mundo de outra forma, essa expansão de consciência foi muito importante pra mim, também pra não perceber o tempo. Eu não sei se percebo o tempo, Tony. Eu não tenho relação nenhuma com o tempo. O tempo é uma invenção humana desnecessária.
Fé: Eu não tenho essa dádiva, não recebi essa graça, tenho o maior respeito e acho a coisa mais linda, adoraria ter fé. Vou falar fé em algo maior, eu não tenho, Tony, sempre falo que sou é um pé-de -couve, acordo animada, meio-dia fico cansadinha, porque o pé-de-couve murcha ao meio-dia, e à tarde já estou animadinha de novo. Eu me sinto parte de uma natureza, sou da natureza, faço parte dela, nasci, cresci, desenvolvi e vou apagar em breve. Não tive a fé de acreditar em algo superior, venho de família católica, mãe, católica, pai, irmã, são todos.. e eu não tive a graça.. tenho o maior respeito por quem tem.
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