Responsável pelas negociações comenta a situação atual. (Imagem/Divulgação) |
O próximo dia 29 de março será crucial para a indústria televisiva no Brasil. Nessa data, o Ministério das Comunicações fará o desligamento do sinal analógico para a capital paulista e mais 38 municípios da Grande São Paulo, digitalizando totalmente a transmissão do sinal televisivo para o maior mercado do País.
Além do switch-off, outra movimentação da indústria pode gerar impactos importantes nesse dia. A Simba Content, joint-venture criada por Record, RedeTV e SBT em 2015, com a proposta de negociar conteúdo com as distribuidoras dos canais de TV por assinatura, deixou claro que a liberação de seu sinal para empresas como Net, Sky, Vivo, Oi, Claro e outras dependeria da negociação financeira estabelecida com essas empresas. Agora, com a proximidade da transição do sinal analógico para o digital, a negociação começa a ter um peso mais importante.
Por conta disso, a joint-venture foi buscar, no mercado financeiro, um executivo para conduzir as negociações com as distribuidoras. Especializado em participar de fusões e aquisições na área de telecomunicações, Marco Gonçalves é ex-sócio do BTG Pactual e defende, com veemência, o posicionamento das emissoras da TV aberta em exigir uma remuneração para a distribuição de seu conteúdo.
Em 2007, na época do início da transmissão do sinal digital, os canais abertos tiveram que se equipar tecnologicamente para produzir em qualidade HD, ou seja, com a alta definição requerida pelo sinal digital, o que demandou altos investimentos por parte da TV aberta. Na visão de Gonçalves, as distribuidoras de canais de TV paga, desde então, passaram a contar com os conteúdos digitais de forma gratuita, cobrando, inclusive, um preço maior dos consumidores que queriam pacotes com as versões em alta definição dos canais abertos. “Agora, o que as emissoras estão querendo é apenas a remuneração pela distribuição de seu conteúdo. As operadoras já fazem esse pagamento para diversos players do setor. Por que não fazer para três empresas nacionais que carregam uma audiência bastante significativa?”, questiona Gonçalves, em conversa com Meio & Mensagem.
Intitulando-se “negociador” da Simba, Gonçalves admite que ainda não fez reuniões com os porta-vozes das distribuidoras para tratar do assunto, mas já tem o discurso pronto para quem se recusar a aceitar a exigência da joint-venture. “Ninguém é obrigado a pagar nada. Se a operadora achar que não é certo remunerar o conteúdo de Record, SBT e RedeTV, não é obrigada. Apenas, deixará de contar com a exibição de nossos conteúdos em sua grade”, garante.
Ciente do poder do conteúdo (e da audiência agregada dos três canais que possui como moeda de troca), Gonçalves pontua que a Simba não deseja criar um embate no setor, mas sim se posicionar como aliada do mercado. “O setor de TV por assinatura está em plena transformação. Quando a operadora remunera um conteúdo que agrega uma boa audiência, nos oferece verba para continuar investindo e produzindo mais conteúdo de qualidade, o que movimenta o mercado e pode, no futuro, gerar uma competitividade maior de preços, beneficiando, inclusive, as próprias distribuidoras”, pontua o executivo.
Quem paga a conta?
Como argumento contrário ao posicionamento da Simba Content, existe a ideia de que, ao pagar pelo direito de exibir os conteúdos dos canais – e, consequentemente, ampliar suas despesas – as operadoras de canais repassariam esse custo aos assinantes. Segundo Gonçalves, essa é uma visão equivocada. “As operadoras têm margem suficiente para reajustar seus custos e redistribuir seus investimentos sem repassar essa conta ao consumidor. São companhias gigantes que têm lucros muito altos”, argumenta.
O executivo da Simba se dedicará, nos próximos dias, a cuidar pessoalmente das negociações. Caso as conversas sejam infrutíferas, ele é taxativo em afirmar que o grupo não será condescendente. “O tempo de fornecimento de conteúdo gratuito terminou. Quem não aceitar remunerar, não terá os três canais em seu cardápio”, afirma.
O espectador, no entanto, não será privado da programação dos três canais. “No sinal aberto, continuaremos presentes. Os assinantes de TV por assinatura que desejarem nos assistir, caso não existam negociações, terão de desconectar o conversar e sintonizar por meio de uma antena convencional”, sugere. O que transfere o problema ao assinante, já que, na prática, o usuário teria que desligar o cabo da TV paga e ficar apenas com os canais da TV aberta – desde que tenha antena coletiva ou individual.
Se o impasse persistir até o dia 29, quando a transmissão do sinal analógico acaba na Grande Paulo, o assinante da TV paga terá que correr para comprar a antena que lhe garante a captação do sinal digital do SBT, Record e RedeTV. Ou ficará sem essas três emissoras, segundo Gonçalves.