Desde sempre, a TV por assinatura tem como grandes campeões de audiência os canais infantis. É só ver, no "Eu Paguei Pra Ver" da semana passada, como várias crianças reagiram ao fim da Fox Kids.
Porém, mesmo queridos, estes canais não tinham a capacidade, até então, de criar fenômenos que mudassem os comportamentos e trouxessem faturamento, porque tinham alcance limitado. Em 2005, por exemplo, pouco mais de 4,5 milhões de brasileiros tinham acesso à TV por assinatura. Só que um desenho da Nickelodeon, exibido em outro canal, começou a mudar isso: "Os Padrinhos Mágicos".
Produzido desde 2001 pela Nickelodeon nos Estados Unidos, a animação criada por Butch Hartman começou sem muito crédito e audiência, mas a partir das segunda temporada, em 2002, os números cresceram de forma assustadora - chegou a virar o desenho mais popular da Nick, vencendo até "Bob Esponja", a estrela da companhia -, muito por mesclar o humor infantil com críticas sociais à política, trazendo todo o tipo de público para a Nick.
Só que no início de 2003, a Nick brasileira estava com uma "pegada diferente". Investindo em desenhos de ação para os meninos, o canal preferiu apostar em "Yu-Gi-Oh!", animação de sucesso que era exibida pela Globo e por ela, e acabou descartando a compra de "Os Padrinhos Mágicos" no Brasil. Isso, na verdade, é bem comum, devido à autonomia que a Nick dá para suas afiliadas em todo o mundo. Um exemplo são as temporadas recentes de "Power Rangers". Se nos EUA elas são exibidas pela Nickelodeon, por aqui o Cartoon Network é quem mostra os heróis saltitantes.
Vendo o sucesso da gringolândia e querendo "familiarizar" a recém-adquirida Fox Kids, a Disney - através da sua distribuidora de animações, a Buena Vista International - adquiriu o produto que tem Timmy Turner como protagonista.
Suas duas primeiras temporadas adquiridas até então entraram na programação da Fox Kids em maio de 2003, e tiveram praticamente o mesmo início dos EUA: tímido no horário nobre do canal, às 20h. Porém, de repente, a audiência da Fox Kids explodiu a ponto da Disney tornar o desenho seu carro-chefe, junto com "Power Rangers". No lançamento do Jetix para as operadoras, a programadora se referiu a "Os Padrinhos Mágicos" como o "grande sucesso do canal". E de fato era.
Em 2004, o Jetix estreou em segundo lugar geral na TV por assinatura - perdendo apenas para o Cartoon Network -, muito por conta de episódios inéditos da terceira e quarta temporadas do desenho, produzidas entre 2003 e 2004. Além disso, a programadora licenciou a marca para biscoitos, blusas, álbum de figurinhas, lancheiras e todo os tipos de produtos que você pode e não pode imaginar.
Tudo estava lindo para a Disney, mas no início de 2005, a coisa complicou. Vendo o estouro que "Os Padrinhos Mágicos" virou na concorrente, a Nickelodeon decidiu recomprar os direitos da animação a partir da quinta temporada, em 2005. O fato foi divulgado com grande pompa na grade. "'Os Padrinhos Mágicos' voltaram pra casa!", diziam comerciais veiculados nos intervalos da Nick e peças publicitárias nos principais jornais e revistas do Brasil.
Na imprensa, à época, a Disney lamentou bastante a atitude da Nick de adquirir a animação novamente, apenas depois dele ter se transformado em sucesso nacional graças ao trabalho feito pela Disney. Porém, executivos da companhia entendiam que aquilo era "coisa de mercado".
Até hoje, "Os Padrinhos Mágicos" tem episódios inéditos exibidos pela Nickelodeon no Brasil. Porém, o Disney Channel e o Disney XD, canais infantis da Disney, reprisam a animação em diversos horários de sua grade, todos os dias. Atualmente, Timmy Turner e sua trupe estão na décima temporada, e sem previsão de encerramento dos trabalhos.