A pirataria foi um dos temas centrais do Congresso e Feira ABTA 2015, que terminou nesta quinta, 6. O assunto esteve em meios às discussões em diversos paineis no evento. Operadores e programadores apontam que o maior obstáculo do setor não são os serviços de novas modalidades concorrente, mas sim a pirataria, adversária antiga e persistente. "Hoje em dia quando a gente olha para a empresa que é a maior no mercado oficial de streaming OTT (Netflix), ela é apenas a terceira colocada, e tem menos da metade do primeiro", disse Flávia Hecksher, diretora de marketing da rede Telecine, destacando que o serviço é pequeno em comparação aos seus "concorrentes" piratas.
Segundo Bernadro Winik, diretor de varejo da Oi, existem diversos tipos de pirataria, incluindo uma "pirataria branca", praticada pelas empresas do próprio setor. Ele se refere ao compartilhamento de uma mesma assinatura por diversas residências. Winik pediu que as operadoras fiquem atentas ao tipo de oferta que lançam no mercado, para não incentivar a prática. "Aquela coisa de oferta com cinco pacotes de altíssimo valor com quatro pontos adicionais que cria um condomínio, nós coibimos dentro da Oi. Sabemos que existem maneiras criativas de distribuir e é preciso coibir, auditar o consumidor, ver se o distribuidor não está ofertando esse tipo de coisa. Contudo, sabemos que essa é uma prática de mercado e algumas pessoas adoram a ideia de não ter que pagar, de dividir com o vizinho. Mas isso também é pirataria, também é caso de polícia e nesse caso nós podemos sim agir", disse.
Flávia, da rede Telecine, reforçou o posicionamento de Winik. "Quando fazemos pesquisas, notamos que temos uma penetração do produto muito maior que a informação oficial que eu recebo. Então realmente existe uma parte que a gente como indústria pode fazer".
Em outro painel, o responsável pelo serviço de TV da Oi, Ariel Dascal, apontou que esse tipo de compartilhamento é percebido pelas operadoras. "Ás vezes o assinante nem sabe que não está legalizado. Quem fez isso foi o parceiro comercial de um de nós (operadores) que achou uma forma criativa de vender. A prática é pouco coibida por algumas operadoras", disse. Segundo Dascal, para evitar esta prática, a Oi audita o trabalho de seus parceiros e, em caso de irregularidades, deixam de trabalhar com o parceiro. "Os programadores tem um papel aí também. Eles estão sendo lesados e eles têm capacidade de auditar e de quebrar esse tipo de ação", disse.
Alessando Maluf, gerente de marketing da Net, diz que o cabo também é afetado pela assinatura compartilhada. "Não pactuamos dessa prática nas nossas operações. Para evitar isso, o setor precisa de uma força tarefa, inclusive informando o consumidor. Muitos não sabem que são piratas e outros sabem, mas acham bonito", disse.
Para Márcio Carvalho, gerente de marketing e produtos da Net, a pirataria "é algo que incomoda todos que estão aqui (operadores e programadores), e nós não conseguimos reagir sozinhos. Isso precisa de governo e das instituições. Temos que ser mais efetivos contra todo e qualquer tipo de pirataria, que afeta não só nosso negócio mas também nosso país e a sociedade. Esse é um grande problema e precisamos achar soluções".
Contra-oferta
Para programadores e operadores, a oferta de serviços diferenciados como VOD e TV everywhere podem até ajudar a reduzir o problema, mas não é possível competir com alguém que não paga pelo conteúdo. "Alivia (a oferta dos serviços), mas é impossível combater uma proposta de valor onde o conteúdo é roubado. Nós vamos melhorar o conteúdo e fazer de tudo para tornar o produto mais acessível. Só que roubar, e vender por cinquenta reais um produto que não custa isso para produzir e distribuir é um caso de polícia e cultura e temos que trabalhar nessas duas frentes", disse Carvalho.
"Sem dúvida a oferta de bom conteúdo vai diminuir o poder da pirataria, mas não acaba com ela. Até para colocar um filme no VOD a gente tem uma mega operação em conjunto com Google, com Globo.com e todas as marcas da Globosat. É preciso ver se o conteúdo está disponível em algum lugar e precisamos criar um mega algoritmo para derrubada de conteúdo ilegal. Com isso, diminuímos nossa margem de lucro por causa de um cara que não paga nada", concluiu Flávia Hecksher.
De acordo com Rafael Sgrott, diretor de vídeo da Vivo, a atuação dos piratas dificulta até mesmo o desenvolvimento de novos serviços, aumentando seus custos. "Acho que vale destacar o impacto que isso tem nos novos serviços. Porque agora esse conteúdo não está mais no set-top box apenas. O cliente gostaria de ter mais liberdade mas não é possível porque temos que tomar uma série de precauções. A complexidade aumenta e complexidade é custo e investimento. Não dá para conviver com um mundo que existe legalmente sem regulação (OTTs) e um mundo que vive ilegalmente sem regulação, sem custos sem nada (pirataria) – aí é covardia", criticou.