Queixa antiga, a dificuldade na negociação com as programadoras foi também tema de debates na ABTA 2015, que ocorreu nesta semana, em São Paulo. O diretor geral da associação NeoTV, Alex Jucius, defendeu uma flexibilidade maior no empacotamento para combater não apenas as plataformas over-the-top (OTT), mas também a pirataria. "Talvez ter uns oito canais a R$ 19,90 ou R$ 29,90. São preços de Netflix, mas teria oportunidade de fazer pacote menor se os programadores dessem a chance de se testar distribuição diferenciada", sugere.
Não é a visão do gerente de marketing e produto da Net, André Guerreiro. "Por R$ 19 não fecha a conta, não consigo colocar na rua, não é viável, nem mesmo se fosse com zero canal", retrucou ele durante o debate. Diretor de marketing da Algar Telecom, Márcio de Jesus Silva concorda que esse valor não se encaixa na realidade de sua operadora, mas pensa em outra forma de tentar capturar esse cliente de baixa renda. "Se pensar que nos R$ 400 que o cliente pagaria pelo aparelho pirata, o cliente poderia nos pagar pela infraestrutura", diz ele, referindo-se ao preço de um set-top box pirata vendido no comércio do centro de São Paulo.
Uma alternativa para chegar à classe C, na visão do diretor de produto residencial da Oi TV, Ermindo Netto, é investir em outro modelo de negócios. "Tem dois caminhos: primeiro, só depende de operadoras ao pensar produtos novos na configuração que se tem hoje, e por isso a Oi acredita em pré-pago porque ajusta o produto para o consumidor final", exemplifica. Há o problema de ter que repassar o custo do set-top box ao cliente, mas ele acredita ser algo contornável.
Por outro lado, a negociação para a programação continua a ser uma barreira. "Outra opção é oferecer menos canais, mais customizado, mas precisamos de agentes da indústria de TV para chegar a um consenso", diz. Netto ressalta que a estratégia da Oi ao trazer grande capacidade satelital passa pela distribuição de conteúdo regional, que permite captar novos recursos e fidelizar clientes. Mas ele reclama do custo para inserir canais abertos digitais nos set-top boxes. "A discussão sobre a cadeia de valor vai ter que acontecer porque o ambiente da TV tem quatro ou cinco agentes: produtor de conteúdo, programador, operadora, agência reguladora e cliente; mas a finalidade dos quatro primeiros é atender ao último, então eles têm que chegar a um consenso."
A concorrência com a pirataria e com a oferta de conteúdos over-the-top não ajuda, mas, sobretudo, a reclamação é com o preço do conteúdo repassado para as operadoras. "É um cenário de 50% de despesas recorrentes, certamente igual para pequenos e grandes, e em qualquer indústria não dá para ter metade dos custos para uma coisa só", detalha o diretor da Oi.