Economia pode prejudicar o crescimento da TV paga


O cenário de fraqueza econômica do país e a valorização do dólar devem fazer a TV por assinatura crescer menos no Brasil este ano, em mais um capítulo de uma desaceleração que já dura três anos, segundo operadoras de telecomunicações e associações do setor.

O mercado de TV paga teve crescimento de 8,7% em dezembro na comparação com o mesmo mês de 2013, para 19,6 milhões de acessos, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O avanço foi mais lento se comparado a 2013 e 2012, quando houve altas anuais de 11,3 e 27%, respectivamente.

A indústria já percebeu diminuição da demanda em janeiro em um ambiente em que a TV paga é um dos primeiros serviços cancelados quando há redução do orçamento das famílias, disse Ariel Dascal, diretor da Oi TV. "A demanda está dando uma esfriada, fruto da nova situação econômica", declarou.

"O mercado é feito de pessoas que estão aderindo. Acontece que (em situação econômica ruim) as famílias começam a rever (a decisão de assinar)", completou o executivo da Oi, que não prevê corte nos preços em seus pacotes de canais.

A Claro TV também antecipa ano mais complicado. Segundo Antônio João Filho, diretor-executivo da companhia, as dificuldades já foram sentidas no segundo semestre do ano passado, quando a operadora teve um pico de inadimplência e em dezembro teve de retirar 397 mil usuários de sua base de 3,38 milhões de assinantes.

"Nós procuramos fazer várias ações para manter os clientes, como negociar a dívida e reduzir os planos. Tivemos sucesso com uma parte, mas com outra não conseguimos", disse João Filho.

Tendo em vista o cenário adverso, a empresa de televisão por assinatura via satélite do grupo mexicano América Móvil aposta este ano no pacote pré-pago, criado no fim de 2014, que permite uma assinatura mensal de TV sem necessidade de contrato anual. O modelo já é adotado em países como Índia e Venezuela, disse o executivo.

"O cliente compra o equipamento uma vez e paga o pacote de TV conforme tem dinheiro", declarou. "Esse produto deve crescer, uma vez que a população já está habituada a comprar créditos de telefonia móvel", completou.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Oscar Oliveira, o mercado deve crescer este ano menos que os quase 9% de 2014. Segundo ele, a situação do setor ainda não é grave, mas se tornará caso haja aumento do desemprego.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram no fim de janeiro que o desemprego caiu a 4,3% em dezembro e igualou a mínima histórica. Mas a principal razão foi a menor procura por trabalho, com o mercado dando sinais de esgotamento com redução de vagas no ano pela primeira vez em uma década.

Já nesta terça-feira, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE mostrou que o emprego formal no setor privado recuou 0,4% no quarto trimestre sobre os três meses anteriores, quando havia caído na comparação com o período imediatamente anterior pela primeira vez desde o início da série histórica do levantamento, em janeiro de 2012. No quarto trimestre, 147 mil pessoas deixaram de ter carteira assinada, apontou o IBGE.

Para a líder de mercado, a NET, da América Móvil, o ano ainda deve ser marcado por pressões inflacionárias, que elevarão os preços dos pacotes de canais, de acordo com André Guerreiro, diretor de inteligência de mercado da empresa. Os contratos da TV paga são reajustados anualmente pelo IGP-M, índice que capta a variação dos preços dos produtos importados. O dólar acumula alta de 4,5% contra o real desde o início do ano.

Mesmo com a desaceleração recente da base de usuários, a indústria da TV paga elevou em quase 37% suas receitas reais nos últimos dois anos, de acordo com informações da Anatel. Entre janeiro de 2012 e junho de 2014, a receita operacional líquida da indústria subiu de R$ 1,3 bilhão para R$ 1,78 bilhão

Segundo Maiara Munhoz, analista da consultoria Frost & Sullivan, o avanço do faturamento ocorreu por conta do crescimento da receita por usuário, já que os clientes que ficaram na base das operadoras passaram a utilizar mais serviços de valor agregado, como produtos sob demanda e pay-per-view.

A oferta desses produtos foi a forma encontrada pelas operadoras de concorrer com os serviços baseados em banda larga, chamados no jargão da indústria de over-the-top (OTT), como o Netflix.

"Os clientes estão cancelando alguns canais, diminuindo o pacote, e contratando o Netflix de forma complementar", disse Maiara. Segundo especialistas, o trunfo da TV paga ainda são as transmissões ao vivo.

"No curto prazo, a porcentagem de clientes cancelando por completo a TV paga para ficar com os serviços OTT ainda é pequena", disse a analista, sobre os usuários na América Latina.

De acordo com estudo de novembro da Frost & Sullivan, os serviços OTT terão impacto negativo de 147 milhões de dólares nas receitas das operadoras latino-americanas em 2018, o equivale a menos de 1% da receita total dessas empresas.

Para Maiara, a tendência no longo prazo é que esse impacto aumente, tendo em vista o forte crescimento desses serviços online. A previsão da consultoria é que o mercado de OTT fature 783 milhões de dólares em 2018 na América Latina, frente aos 96 milhões de dólares de 2013.

Em número de assinantes, o volume deve passar de 3,2 milhões para 12,7 milhões de usuários latino-americanos no mesmo período.

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