Pequenos operadores querem rever modelo de programação


Como crescer em um momento em que de um lado há uma pressão sobre os custos de programação e ao mesmo tempo um limite no quanto se pode cobrar do assinante? Quem paga a conta das inovações como VOD, HD e TV Everywhere?

Esta foi a tônica do debate promovido pela NeoTV, em seminário que marcou os 15 anos da associação nesta terça, 25, em São Paulo.

Os pequenos operadores se queixam dos altos custos de programação, maiores que os cobrados das grandes operadoras, segundo eles. Mas os programadores explicam que também vêm sofrendo pressão de custos. “O preço do conteúdo subiu muito, em especial dos direitos esportivos, mas também da produção original, por causa da demanda trazida pelas cotas”, contou Gustavo Leme, da Fox. “Há um aumento no número de canais, e gêneros que antes eram mais baratos, como a culinária, ficaram caros, pela grande procura”, completa.

Segundo ele, ainda não se chegou a um equilíbrio entre a demanda por produção nacional e a capacidade dos canais de produzir. “As produtoras ainda não perceberam que não vamos pagar qualquer preço pelo conteúdo”, diz Leme.

Anthony Doyle, da Turner, acrescentou: “Somos 100% a favor do conteúdo nacional, mas sem aumentar custos e fechar canais. Nunca se falou no interesse do assinante, e quem paga a conta é ele. A publicidade ainda não cresceu como queríamos”, afirmou. Doyle ainda fez uma crítica ao modelo exigido pela lei, no qual os direitos patrimoniais são do produtor. “Você paga (pela obra) e não fica com os direitos. É uma receita para não se investir em qualidade”.

Os programadores lembraram ainda que têm feito investimentos não só em conteúdos, mas também nas plataformas, oferecendo mais canais em HD, TV everywhere e VOD. Algo que o assinante não paga a mais para ter, mas que segundo eles traz valor à assinatura.

O operador Alberto Umhof, da BVCi, diz que estes custos não podem ser repassados ao assinante. “Ele paga até um limite. Depois (se aumentar mais), eu ‘empurro’ ele para a pirataria”, disse no painel.

Ele pediu que as programadoras flexibilizem os pacotes. “Deveríamos conversar, para conseguirmos oferecer pacotes mais baratos aos assinantes”. A questão não é apenas de preço, mas também das obrigações de carregamento impostas pelas programadoras.

Segundo Rodrigo Shuch, diretor de marketing e produtos da Algar, a adaptação à Lei 12.485 custou à empresa R$ 2 milhões, sem qualquer repasse ao assinante. “Não somos contra a regulamentação, ela trouxe coisas boas para os clientes. Mas adicionar todos os canais locais ficou pesado, e em 2014 a inadimplência aumentou”, conta.

O executivo avalia que o mercado tem potencial para ainda dobrar o número de assinantes, mas mais uma vez alerta que isso só acontecerá se houver um novo entendimento com as programadoras. “Não dá pra ser só a operadora, é preciso um esforço de todos”, disse.

As programadoras por sua vez, disseram que não há margem hoje para rever preços. Ainda assim, não se recusam a conversar. “Não chegamos até aqui sendo intransigentes. Claro que sempre estamos dispostos a negociar”, disse Silvia Jafet, da Newco, programadora do Grupo Bandeirantes.

“Vão ter que sentar sim”, disse Schuch, da Algar. “As grandes já estão soltando pacotes a R$ 39, algo que não conseguimos fazer. Se não revermos esse modelo, a gente morre”, completou.

Em agosto deste ano, durante a abertura da ABTA 2014, o presidente da Anatel, João Rezende, apontou que a agência passaria a analisar a possibilidade de estabelecer regras concorrenciais para o mercado de programação e conteúdo. O assunto, conforme apurou este noticiário, ainda não é prioridade, mas algumas análises foram feitas e há a possibilidade de que o tema seja encaminhado conjuntamente entre Anatel e Ancine.

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