“O negócio de distribuição de TV por assinatura se tornou mais complexo e competitivo”, afirma Elton Simões


A notícia não deveria ser novidade. Nos últimos anos, raramente passa um dia em que não se ouve comentário prevendo a canibalização do modelo de TV por assinatura pela introdução de ofertas OTT (“over the top”). Por isto, os humores já deveriam estar preparados para a notícia de que na América do Norte, tanto no Canada como nos EUA, o numero de assinantes de TV por assinatura caiu em 2013.

Segundo o Leichtman Research Group (LRG), os 13 maiores operadores de TV por assinatura dos EUA, representando aproximadamente 94% do mercado americano, perdeu aproximadamente 105 mil assinantes em 2013. Acontecimento semelhante foi verificado no Canadá no mesmo período. Tudo, entretanto, parece ser uma questão de ponto de vista.

Para todo fato, ensina a vida, existem varias versões. Alguns argumentam que a queda não somente é muito suave, mas também ocorrência natural em regiões onde a penetração de TV por assinatura já tendia a 100%. Seria, portanto, natural que a base de assinantes oscilasse no tempo, não sendo possível aumentar a penetração.

Parte do fenômeno pode ser demográfica por natureza. O mercado pode estar vivendo mudança de paradigma na população jovem, que amadureceu em um ambiente onde OTT é parte do dia a dia. Esse segmento da população talvez esteja satisfeito em entreter-se com mídias sociais e consumindo exclusivamente vídeo online, relegando à TV paga um papel secundário em suas vidas. É especulação válida.

Do outro lado, argumenta-se que a oferta de vídeo online OTT, acessível em varias plataformas, inclusive TV, é concorrente que mina o modelo de negócios de TV por assinatura em sua base: cobrança de assinatura através do controle de acesso a conteúdo exclusivo, em especial filmes e esportes. Segundo esta visão, a TV por assinatura estaria condenada a perda de assinantes ao longo do tempo. O corte do cabo (do inglês “cord cutting”) seria movimento inevitável que teria na sua velocidade a única variável passível de ser mitigada.

Apesar de toda a especulação, certezas são luxos de poucos e, mais seguramente, desgraça para muitos. Até este momento, não se encontrou evidência de que existe relação direta entre o “cord cutting” e as ofertas OTT.

Na verdade, os dados sugerem que, no futuro previsível, a eliminação completa do serviço de TV por assinatura (“cord cutting”) por um grande volume de assinantes é mais improvável do que a racionalização de seus gastos com serviços premium oferecidos pelos operadores de TV por assinatura.

Em outras palavras, os assinantes tendem a manter seus pacotes básicos, protegidos pelo empacotamento conjunto com ofertas de telefonia, mas, ao mesmo tempo, eliminando serviços de valor agregado.

Para operadores, esta poderia ser tendência preocupante. Afinal de contas, receitas perdidas nesses serviços, em última análise, podem seriamente impactar a rentabilidade, uma vez que atingem o universo que mais consome (e paga por) TV.

Dados publicados pela Digitalsmith indicam que 48% dos assinantes de TV paga nos EUA completam suas assinaturas com serviços OTT. Os principais motivos da compra de OTT como Netflix, Hulu ou iTunes seriam: conveniência (53%), preço (48%) e permitir completa visualização de temporadas da TV (31%).

Outra tendência preocupante para os operadores de TV paga nos EUA parece ser o grau de desconhecimento de suas ofertas de TV Everywhere. Entre os entrevistados, 52% afirmaram que não sabiam se o seu provedor oferece app para TV Everywhere.

Da mesma forma, apenas cerca de 20% dos pesquisados afirmou ter baixado o TV Everywhere app do seu provedor de TV paga em seus tablets e/ou smartphones. Questões como autenticação, falta de conteúdo e a indisponibilidade da visualização fora de casa parecem contribuir para a baixa adoção, pelos assinantes de TV paga, da TV Everywhere oferecida pelos operadores.

Como é frequente no negócio de mídia, a questão não esta não falta de demanda por conteúdo. Ela continua crescente. Entretanto, na ausência de ofertas satisfatórias por parte dos operadores de TV paga americanos, os assinantes parecem estar interagindo diretamente com apps dos proprietários do conteúdo.

Do universo de assinantes de TV paga, dos usuários de tablet e smartphone entrevistados pela Digitalsmith, 31% baixou apps de alguma rede de TV, sendo a ABC a mais popular, com 7,9% dos usuários.

Neste cenário, operadores de TV paga na América do Norte continuam lutando para manter suas bases, enquanto os provedores de serviços OTT online continuam a crescer. Para crescer, operadores parecem ter a necessidade urgente de melhorar sua própria oferta de TV Everywhere, entregando melhor qualidade, conveniência, facilidade de uso, e preço.

Em um universo em constante mutação, a demanda incessante por conteúdo parece ser a única constante. Por isto, controle, acesso, volume, empacotamento, preço qualidade e relevância do conteúdo vendido continuam sendo variáveis criticas para o sucesso.

Neste sentido, o negocio de distribuição de TV por assinatura se tornou mais complexo. E mais competitivo. Conteúdo continua Rei!

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