Está marcado para maio, dentro do prazo previsto, a entrega da primeira fase da nova central de operações técnicas da Sky no interior de São Paulo, batizada de Jaguariúna Broadcast Center (JBC), na cidade de mesmo nome. As operações começam em junho, e deve haver um período de transição de até dois anos para que o local esteja funcionando plenamente.
O site atual da operadora, em Tamboré (SP), será mantido após a transição, como backup e também operando alguns canais. Os dois complexos atenderão às necessidades da Sky no Brasil e também em outras operações da América do Sul.
Além da transmissão de canais, a estrutura também pode ser usada para dar suporte a serviços atuais e futuros da Sky e sua controladora AT&T, como data center, banda larga e uma ampliação dos serviços de VOD da operadora.
Este noticiário visitou em meados de março as obras da nova infraestrutura da operadora, que já começavam a receber alguns equipamentos. Somada ao satélite em construção, a obra representa um investimento de mais de R$ 1 bilhão. O satélite Sky-B1 está em produção pela Airbus e deve ser lançado no final deste ano ou início de 2017 pela Arianespace.
Conheça outras áreas do novo centro de transmissão da operadora de TV paga Sky. |
O prédio
A nova sede está localizada em um terreno de 33 km², com 17 km² de área construída. O prédio de três andares pode abrigar até 700 funcionários. O planejamento da obra, que levou cerca de cinco anos desde a concepção até a conclusão, priorizou acima de tudo a confiabilidade das instalações, uma vez que a operação precisa de confiabilidade e disponibilidade total, 24 horas por dia, todos os dias do ano.
Esta segurança passa por sistemas redundantes de ar-condicionado, combate a incêndio, fornecimento e geração de energia, sistemas de recepção e transmissão de sinais, controle de acesso, proteção contra interferências e outras.
A localização foi um dos fatores-chave. Foi determinada uma distância de cerca de 100 km da capital, por questões logísticas e de segurança. A equipe da Sky chegou a prospectar 35 terrenos, reduzidos a cinco e finalmente a este de Jaguariúna, que já abrigou fábricas da Johnson's e da Compaq, e fica em um condomínio de empresas.
"O litoral nós descartamos logo, pela proximidade com o mar. A região de São José dos Campos é boa e tem muitas empresas de tecnologia, mas também tem muito tráfego. Tínhamos outras preocupações também, como o zoneamento e a presença de residências próximas, por causa do ruído", conta Luiz Otávio Marchezetti, diretor de engenharia da Sky.
Ao contrário do que se pode pensar, o regime de chuvas não foi preponderante na escolha. "Chuva não afeta muito. Vento, por exemplo, é pior, por causa das antenas. Descartamos uma das localidades porque ventava muito", conta o engenheiro.
Um dos grandes desafios da obra foi o prazo. A construtora responsável, a Engemon, iniciou a construção em novembro de 2014. Diferentemente do que previa o projeto original, optou-se por não se fazer a obra em estrutura metálica, mais rápida, mas em pré-moldados, método mais barato, porém mais lento. "O planejamento ajudou", conta o engenheiro Carlos Nomura, diretor de engenharia da Engemon. Ele ressalta que foi importante a contratação em regime de turnkey, ou seja, a construtora gerenciou toda a obra, inclusive a compra dos equipamentos como geradores, ar-condicionado etc, permitindo um controle maior sobre os prazos e entregas. "Também ajudou muito nós termos todas as áreas envolvidas aqui dentro da empresa", diz.
Ele conta que o projeto teve desde o início uma grande preocupação com a sustentabilidade, não apenas ambiental, mas também econômica e social.
Toda a preocupação com segurança garantiu à obra o prêmio Data Center Dynamics de 2015, como Melhor Data Center "Enterprise", normalmente cedido a empresas do setor bancário ou de telecomunicações. "Temos um data center tier 3, que é um dos padrões máximos de segurança no Brasil e no mundo", conta Marchezetti.
A segurança é garantida ainda no acesso às salas internas do complexo, feito através de crachá de identificação combinado com biometria.
Tecnologia
Uma das principais inovações do JBC está nas antenas de transmissão, fornecidas pela Viasat. O modelo escolhido traz os transmissores dentro da própria antena, o que garante um grande ganho de energia. "Chega a gastar dez vezes menos que um sistema convencional", diz Marchezetti. Ele conta ainda que neste sistema é usado um transmissor para cada seis transponders, o que aumenta também a eficiência energética.
Instalar as antenas foi um desafio à parte. O JBC está à margem de uma rodovia, e as sondagens mostraram um solo argiloso, propenso a vibrações. Foram instalados sensores de vibração no solo, por vários dias, para monitorar o efeito em diferentes condições e horários.
Ao fim, cada antena foi instalada sobre um bloco de concreto de 1,4 m de altura, sustentado por 16 estacas de 15 m de profundidade, para garantir a estabilidade.
Também foram feitos diversos testes de interferência eletromagnética. "Há interferência dos carros. Aqui é rota para Águas de Lindoia, onde se fazem encontros de carros antigos, passam calhambeques, até isso interfere", conta Marchezetti.
Na área de recepção, optou-se por um parque de antenas convencionais. "Poderíamos usar uma antena grande multibeam, mas o gasto seria bem maior e só teríamos economia de espaço, o que não é o caso aqui. E assim é mais seguro, não dependemos de um equipamento só", conta o diretor. A conexão das antenas com o edifício é feita toda em fibra ótica, garantindo também mais confiabilidade e economia.
As fibras óticas que conectam o JBC aos provedores externos têm quatro pontos de entrada independentes no JBC, cada um levando a uma sala separada, por segurança. "Originalmente seria duas entradas, mas optamos por dobrar, para garantir ainda mais redundância", conta o engenheiro.
As salas onde ficam os equipamentos de criptografia são as mais seguras, em relação ao acesso. São fechadas com grades (como uma jaula), e têm um sistema rigoroso de identificação.
Redundância
Todos os sistemas da edificação foram programados para ter redundância, tanto para o caso de panes quanto para manutenção. O sistema de ar-condicionado, por exemplo, além da redundância normal, conta ainda com serpentinas e anéis duplos. Ou seja, ainda que parte do sistema falhe, outra parte pode seguir funcionando. Além disso, o prédio conta com uma torre de água gelada, uma espécie de garrafa térmica gigante, com capacidade de suprir o sistema de refrigeração por até 15 minutos em caso de pane, o suficiente para que os geradores sejam ativados e as máquinas voltem a funcionar.
Foi escolhido para o ar-condicionado um sistema de troca de calor com ventiladores, e não água. "Foi uma opção ecológica", conta Nomura. "Gasta um pouco mais de energia, mas economiza 8 milhões de litros de água por mês, e consideramos que isso seria hoje mais importante", conta. Ainda assim, as salas com os equipamentos eletrônicos foram montadas de forma que o ar refrigerado passe por dutos no meio dos racks de equipamentos, permitindo uma refrigeração menos intensa e com menor dispersão, o que no fim garantiu também uma grande economia de energia. Além disso, houve a preocupação no próprio projeto de se garantir o conforto com menos necessidade de energia, com o uso de telhado reflexivo, e aberturas para iluminação natural.
Um dos destaques da obra, aliás, é o grande jardim de inverno no meio do prédio, que atravessa os três andares e permite a entrada de luz na edificação.
Incêndio e energia
Outra preocupação do projeto foi com a possibilidade de incêndio. O ar do complexo é monitorado permanentemente e um sistema permite a detecção de substâncias inflamáveis até 48 horas antes de um incidente. Em caso de fogo há um sistema de sprinklers secos, que emitem um gás anti-chamas (aqui também, a preocupação ecológica. Foi usado um gás não poluente e não gerador de efeito estufa). Em último caso, sprinklers de água são acionados.
A energia também é garantida 24 horas por dia. O prédio recebe uma ligação de 34,5 kV da concessionária. A alta voltagem garante maior estabilidade na conexão. Como garantia, estão cinco geradores certificados EPA Tier 2 de 2,5 kW e mais um de 1 kW, de baixa emissão de poluentes. A energia é processada e distribuída a partir de duas salas de força independentes.
O complexo conta com captação de águas pluviais para jardinagem, iluminação externa alimentada por energia solar e um sistema sofisticado de proteção contra raios, além de vidros a prova de balas.